segunda-feira, 3 de novembro de 2014

FICHA TÉCNICA: Leônidas Grillo



Leônidas Grillo nasceu no dia 24 de agosto de 1939 na cidade de São Lourenço, interior de Minas Gerais.
Começou a jogar bola no juvenil do Esporte Clube São Lourenço, onde chegou até o profissional e participou do jogo contra o Dínamo Bucarest, da Romênia, na derrota de 3 x 2 do time mineiro.
Depois jogou pelos times do Industrial, de Itanhandu (MG), Três Pontas A. C. - TAC (MG) e Associação Esportiva de Guaratinguetá (SP), até chegar ao Fluminense, do Rio de Janeiro, onde jogou com Dodô e Altair, esse último campeão mundial em 1962 pela Seleção Brasileira.
Em sua cidade natal, um motorista de caminhão trouxe-lhe uma mensagem do amigo Alfredo de Lucas. Ex-diretor do E. C. São Lourenço, Alfredo de Lucas já conhecia o futebol de Leônidas e o chamou para vir para Brasília, onde as peladas e torneios promovidos pelas empresas instaladas eram a única diversão dos candangos. O caminhoneiro, por sua vez, convenceu-lhe a acompanhá-lo na viagem para Brasília, contando sobre a fartura de trabalho e ótimas oportunidades de salário que a construção da nova capital oferecia.
A viagem na boleia de um caminhão carregado de garrafas de água mineral que o trouxe para Brasília demorou três dias. O desembarque foi na Vila Planalto, no dia 28 de julho de 1960. A cidade lhe pareceu esquisita, todas as construções de madeira, vários acampamentos de trabalhadores, obras incompletas por todos os lados, muita poeira.
Nos dois primeiros dias, instalou-se na casa do amigo Alfredo de Lucas, que tinha um bar na Vila Planalto. Mas a disponibilidade de vagas de trabalho era realmente impressionante.
Os treinos de futebol não demoraram a acontecer. Não demorou para Leônidas passar a ser integrante do Esporte Clube Planalto, time mantido pela Construtora Planalto, uma das tantas que, sob a administração da Novacap, eram encarregadas de concluir a construção da nova capital.
Por saber ler e escrever bem, foi contratado pela construtora como fiscal de alojamentos e residências oficiais. O trabalho era simples, nem um pouco cansativo. Mas a precariedade da vida em Brasília era exaustiva. Sofreu com a solidão do acampamento, assim como outros colegas, que inúmeras vezes foram ouvidos chorando durante a noite.
Todos os dias, às 17 horas, quando os caminhões deixavam os candangos nos acampamentos depois de um dia de trabalho que começava de madrugada, Leônidas se desesperava. Eram mais de cem caminhões carregados de trabalhadores que chegavam batendo seus capacetes como se estivessem numa guerra. Fora isso, ainda tinha a poeira que levantava do chão e a necessidade de conviver apenas entre homens, pois não havia mulheres nos acampamentos.
Por causa da falta de mulheres e lazer na cidade, todos os finais de semana as construtoras enchiam seus caminhões de trabalhadores e os levavam até as cidades goianas vizinhas - Formosa, Luziânia e Anápolis. Além desses passeios, a única diversão dos trabalhadores era o futebol.
Os candangos eram mesmo enlouquecidos pelas partidas que aconteciam nos acampamentos das companhias. Cada companhia investia alto na formação e manutenção de seus times. Os jogadores eram dispensados do trabalho mais cedo que os outros e treinavam em campos construídos nos próprios acampamentos. Os diretores das companhias também presidiam os times.
Em quase todos os finais de semana havia partida de futebol. Cada vez em um acampamento diferente. Havia os campos da Planalto, da Nacional, do Departamento de Força e Luz (DFL), da Alvorada, da Rabello, da Pederneiras e da Metropolitana, que não ficava na Vila Planalto.
O público dos jogos não perdia em nada para qualquer torneio de outro estado. Milhares de pessoas torciam emocionadas por seus times, que tinham os mesmos nomes das companhias construtoras, com exceção do Defelê, do DFL.
Os ânimos ficavam tão acirrados nas partidas que a briga no campo era transferida para os acampamentos. Na torcida, engenheiros, militares, funcionários de alto escalão e candangos se misturavam em torno da maior paixão brasileira de todos os tempos.
Jogou no Planalto nos anos de 1960 e 1961. O bom futebol de Leônidas, que jogava na posição de volante, rapidamente levou o Defelê a interessar-se pelo seu passe. A forma de contratar os jogadores em Brasília era bastante simples. Se o atleta se interessasse, a companhia do time em questão tratava de inseri-lo em algum de seus trabalhos. Dessa maneira, no Defelê, ainda em 1961, Leônidas passou a exercer a função de fiscal de cabos e redes aéreas de alta-tensão junto ao DFL. Neste ofício teve a oportunidade de participar da construção das subestações de energia elétrica números 1 e 2, localizadas no Setor de Embaixadas e na 903 Sul, respectivamente.
Em 1962, atuando pelo Defelê, ajudou a derrotar a seleção amadora do Chile por 2 x 1, jogo assistido por pelo menos 3 mil pessoas. Também nesse ano conquistou o título de campeão brasiliense pelo Defelê. Ainda disputou o campeonato de 1963 pelo Defelê e teve uma breve passagem pelo Vila Nova, de Goiânia (GO). Retornou no ano seguinte e parou com o futebol.
As companhias não economizavam na organização dos jogos. Naquela época, vários times de outros estados estiveram em Brasília, disputando amistosos. No acampamento do DFL havia um alojamento especial só para receber os jogadores convidados.
Em 1973, todos os acampamentos das companhias instalados na Vila Planalto foram demolidos. Houve muita confusão para efetivar a ação de retirada dos candangos do local porque ninguém queria deixar a pequena comunidade onde muitos viviam há mais de dez anos, como Leônidas.
Para garantir a moradia dos candangos fora dali, o Governo do Distrito Federal dava preferência na entrega das casas da extinta SHIS, projeto de moradias populares nas cidades do Gama, Guará e Taguatinga. Nesta época, Leônidas já havia deixado o futebol e era funcionário da Secretaria de Serviço Público. Sem escolha, terminou recebendo uma casa no Guará.
A cidade ainda estava por construir, as ruas sem asfalto e a rede de tratamento de esgoto ainda sendo formada. Quando chovia, fazia tanta lama que o ônibus que levava as pessoas do Plano Piloto para lá não era o mesmo que circulava dentro da cidade, havia um especialmente para isso.
O tamanho das casas era proporcional ao número de pessoas da família do trabalhador beneficiado. Solteiro ainda e sem filhos, Leônidas terminou ficando com uma casa “zero quarto”, como chamavam na época a construção com sala, banheiro e cozinha.
A moradia ainda é a mesma ocupada por Leônidas, a esposa Luzia Maria Moreira e os três filhos, Anthony Leonardo, Anderson Clayton e Ludmila Aparecida. Mas a construção original foi derrubada, dando lugar a uma bela residência de três andares.
Paralelamente ao futebol, Leônidas foi fiscal do Departamento de Gestão Patrimonial (DGP) da Novacap, sendo transferido para o DFL e quando a CEB foi criada ficou na empresa somente 3 meses pois foi convidado para assumir a fiscalização de concessões e permissões no GDF, onde se aposentou em 1994. 
Leônidas Grillo faleceu no dia 4 de julho de 2014.

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