A partir de hoje estamos começando uma nova seção no blog, o BATE BOLA.
Ao tentar elaborar um histórico sobre a carreira de alguns jogadores, percebi
que não tinha muito material em mãos e que também poderia estar cometendo
injustiça ao não contar sua história completa, esquecendo ou omitindo dados e
fatos importantes.
Essa nova seção aparecerá no blog sempre que for possível realizar
“entrevistas” com pessoas relacionadas ao futebol brasiliense (jogadores,
técnicos, dirigentes ou torcedores), quer estejam em atividade ou não.
Ao fazermos as perguntas, esperamos que os entrevistados não sejam
monossilábicos. Sabemos que não é fácil falar de si mesmo, mas pedimos aos
entrevistados que esqueçam um pouco a modéstia. Caso esqueçam algum dado
histórico importante, o nome do time adversário num determinado jogo, uma data
que seja, procuraremos ajudar a tirar essa dúvida pesquisando em nosso acervo e
trataremos de acrescentar à entrevista.
O BATE BOLA servirá para conhecermos um pouco mais de diversas pessoas relacionadas
ao futebol brasiliense, como jogadores, técnicos, dirigentes, árbitros,
torcedores etc.
Nosso primeiro “entrevistado” é o Cassius, um dos maiores artilheiros da
história do futebol brasiliense. Para muitos só perde para Joãozinho. Como
ainda não temos uma estatística completa de todos os gols marcados no futebol
brasiliense, fica o registro.
Acompanhem a “entrevista”.
Para
começar, diga o seu nome completo e seu apelido, caso o tenha.
Meu nome completo é
Cassius Loquingen Lima Santos e o apelido Cabeça.
Qual a data e local de seu nascimento?
11 de maio de 1975, em Brasília (DF). Sou
casado desde 2007 e tenho dois filhos.
Quando você começou no futebol, teve apoio de sua
família?
Particularmente, só pensava em jogar futebol
amador, nos campos de terra da Ceilândia. Trabalhei dos 14 aos 21 anos. Comecei
a jogar no profissional um pouco tarde, por estar sem trabalho. A família
sempre esteve ao meu lado em todos os aspectos.
Conte um pouco de sua trajetória. Como foi o seu
começo? Quem foi o seu primeiro treinador? Quais os clubes que defendeu em
Brasília?
Começo difícil, sem estrutura nenhuma, com
uma pequena ajuda de custo e muitas dificuldades. Faltavam bons campos, bolas e
chuteiras, mas não desisti! Meu primeiro treinador foi Sílvio de Jesus.
Quando comecei nas categorias de base do Ceilândia, não passava de um
lateral-direito. Num jogo pelos juvenis contra a ASMEC, em 1992, um atacante
estava suspenso. Sem opção, resolveram me escalar no ataque, pois eu marcava
muitos gols. Fiz quatro gols e o time venceu por 5 x 1. Logo depois, tive que interromper
a carreira por causa do alistamento militar. Só voltei a jogar, pelo mesmo
Ceilândia, em 1996, por necessidade financeira.
Comecei a trabalhar muito cedo, depois que meus pais se separaram, como “office-boy”
de uma corretora de imóveis. A empresa faliu em 1996 e passei dois anos
desempregado, até o presidente José Beni Monteiro, do Ceilândia convidar-me.
Então troquei o futebol amador e os campos de terra para começar a carreira
profissional aos 21 anos.
Minha estreia como profissional aconteceu em 10 de março de 1996, no Diogão:
Planaltina 3 x 1 Ceilândia. Depois fiz mais três jogos. O Ceilândia foi
rebaixado nesse mesmo ano.
Em 1997, mesmo em uma equipe muito fraca (o Ceilândia ficou em sexto lugar
entre os sete clubes participantes), fui vice-artilheiro da competição, com
sete gols.
No ano seguinte, 1998, fui campeão e artilheiro da Segunda Divisão atuando pelo
Ceilândia. Nas semifinais, marquei os três gols da vitória de 3 x 1 sobre o
Comercial, e um gol em cada jogo da final, com vitórias sobre o Brazlândia: 2 x
1 e 1 x 0.
Em 1999 disputei o campeonato da Primeira Divisão pelo Ceilândia.
No 1º semestre de 2000 disputei o campeonato brasiliense da Primeira Divisão
pelo Ceilândia e, no segundo (o regulamento permitia isso), repeti a façanha de
tornar-me artilheiro da Segunda Divisão com 11 gols, jogando pelo 26 F. C.
Também nesse ano tive a minha primeira participação em uma competição nacional,
a Série B, defendendo o Bandeirante.
Em 2001, depois de marcar seis gols nas sete primeiras rodadas, uma fracassada
negociação com o Grêmio Inhumense-GO me afastou por quatro rodadas. Mesmo
assim, terminei a corrida dos artilheiros em quinto lugar. Ainda nesse ano, cheguei
a atuar no Baré, de Roraima, nas finais do Estadual e pelo Brasiliense na Série
C, emprestado pelo Ceilândia.
Na primeira rodada do campeonato brasiliense de 2002, o Ceilândia goleou a ARUC
por 5 x 0 e eu marquei quatro gols. Nesse ano, recusei convite do Araçatuba
para disputar a Segunda Divisão paulista.
Joguei ainda no CFZ-Brasília (2003), Legião (3ª Divisão em 2006), Unaí (1ª
Divisão em 2007), Bandeirante (3ª Divisão em 2007), Brazsat (3ª Divisão em 2008),
Capital (vice-artilheiro da Segunda Divisão de 2010), Sobradinho
(vice-artilheiro da Segunda Divisão, com 15 gols) e Samambaia (Segunda Divisão
de 2014). Em muitos desses anos, estive no Ceilândia. Ainda joguei no CFZ-Rio,
Guará, Paranoá, Brasília e Formosa.
Quais os títulos que
conquistou no futebol de Brasília?
Tenho 6 títulos em
Brasília: duas vezes na Primeira Divisão com o Ceilândia (2010 e 2012), duas
vezes na Segunda Divisão (com o Ceilândia, em 1998, e Samambaia em 2014) e duas
vezes da Terceira Divisão, com o Legião em 2006 e o Brazsat em 2008.
Sou o único jogador a se tornar artilheiro nas três divisões do DF: em 1998 e
2000, na Segunda, com 8 e 11 gols, respectivamente, em 2003 da Primeira, com 13
gols e em 2006 da Terceira, com 12 gols.
Nas minhas contas, como profissional já marquei mais de 200 gols.
Se já parou com a bola, onde e quando encerrou a
carreira de jogador?
Não parei ainda, mesmo com 40 anos me cuido e
sei que em Brasília ainda posso acrescentar, pois ainda recebo convites para
jogar.
Qual sua opinião sobre o futebol de Brasília,
sabidamente um futebol que não é valorizado pela imprensa brasileira?
O futebol de Brasília nunca vai crescer.
Todo ano é sempre a mesma coisa, muitos tentam ajudar, mas os dirigentes não
deixam. Querem benefício próprio e não pensam no futebol a longo prazo, tanto é
que não temos representantes nas séries A, B e C do Campeonato Brasileiro.
Vários campeonatos amadores são mais organizados que o profissional.
O que o futebol de Brasília tem de fazer para se tornar
um dos melhores do Brasil?
Isso não vai acontecer nunca, pois não temos
pessoas para isso. A promessa de melhorar o futebol de Brasília eu escuto há
mais de 17 anos e continua do mesmo jeito, não evolui.
Você acredita que a reinauguração do Mané Garrincha
trará evolução ao futebol brasiliense?
Não para o futebol de Brasília, mas sim para
os torcedores, que poderão ver grandes jogos nacionais.
Você considera que os grandes jogadores do futebol de
Brasília tem categoria suficiente para atuar em qualquer clube do Brasil?
Sim. Já profissional, tive um treinador que
falou pra mim: você é um dos grandes centroavantes que já conheci, pena que
nasceu no lugar errado!
Como
você escalaria uma hipotética seleção brasiliense de todos os tempos?
Não saberia formar uma
seleção. Individualmente falando, tenho uma grande admiração e sou fã do Dimba,
exemplo de jogador, um cara de grupo, humilde, sempre correto, goleador nato,
que tive o prazer de jogar ao lado dele e juntos ajudar o Ceilândia a ganhar
dois títulos.
Quais foram os três melhores treinadores do futebol de
Brasília com quem você pôde trabalhar?
Reinaldo Gueldini, Adelson de Almeida e
Jorgeney Neri.
E os três melhores dirigentes?
Não existem.
Dá para se falar que existem grandes rivalidades no
futebol de Brasília?
Não existe rivalidade, nem torcida. Para
acontecer isso, o torcedor tem de ir para o estádio em Brasíia!
Você tem aquele jogo que considera inesquecível?
Sim. Final do segundo turno do Campeonato
Brasiliense de 2012, no dia 6 de maio, jogando pelo Ceilândia. Fomos campeões
no Augustinho Lima lotado, em cima do Sobradinho, que jogava pelo empate e era
o favorito. Fiz dois gols e dei duas assistências. Placar final: 4 x 1 para o
Ceilândia.
Com 1,85 m de altura, sou
um centroavante de área, bom cabeceador e finalizador. Chuto bem com os dois
pés.
Quem era o seu ídolo no futebol? Teve oportunidade de
estar em um campo de futebol ao lado dele?
Romário. Só joguei uma vez contra ele:
Seleção do DF 1 x 1 Flamengo, em 1998, no Mané Garrincha.