Nosso
entrevistado da vez é o ex-atacante Jonhes, que está aniversariando no dia de
hoje. Atualmente no Japão, Jonhes falou um pouco de sua carreira como jogador e
agora como treinador.
Para começar, diga o seu nome completo.
Jonhes Elias Pinto dos Santos.
Qual o local e a data de seu nascimento?
Goiânia (GO), 28 de setembro de 1979, mas vim para Brasília com dois anos de
idade.
Onde e quando começou a jogar futebol?
Em uma escolinha de futebol na Vargem Bonita, próximo do Núcleo Bandeirante,
quando eu tinha uns dez anos de idade.
Quem foi seu primeiro treinador? Quem mais o incentivou a continuar na carreira
de jogador de futebol?
Meu primeiro treinador foi o Walter, morador da Vargem Bonita mesmo. Meu pai
sempre quis que eu jogasse, mas as dificuldades sempre foram grandes, então,
minha tia Margarida, que tinha melhor condição financeira, me ajudava com o pagamento
de passagem e mensalidade.
Conte um pouco de sua trajetória no futebol, citando os clubes e os anos em que
jogou.
Depois dessa escolinha na Vargem Bonita, fui para o infantil do Guará, com o folclórico
treinador "Véi Adelino". Joguei no infantil e depois juvenil pela
ASCON - Associação dos Servidores do CNPq. Após esse período, tive que sair do
clube para começar a trabalhar, passando a jogar somente no futebol amador.
Sempre me destacava nos campeonatos e o time que eu jogava resolveu participar
da Segunda Divisão profissional do DF de 2001, com o nome de Armagedon
Metropolitana. Fiz um bom campeonato, fui vice-artilheiro e me levaram para o
Paraguai, onde eu deveria jogar no Deportivo Luqueño. Fiquei lá por cerca de um
mês, mas o empresário que me levou disse que não houve acerto e retornamos.
Voltando à Brasília, fui para o CFZ, onde o treinador era Reinaldo Gueldini, em
seu primeiro ano em Brasília. Fomos campeões invictos em 2002. Tive poucas
oportunidades, pois o time tinha muitos bons atacantes como Tiano, Schwenck e Rodrigão,
entre outros. A partir daí, comecei, como todo jogador de Brasília com poucas
opções de mercado e calendário, a pular de clube em clube no DF.
Joguei no Bandeirante em 2003, ano em que também ajudei a UPIS, de Brasília, a
vencer o Campeonato Brasileiro de Futebol Universitário, em Vila Velha-ES, tornando-me
artilheiro da competição, com seis gols em seis jogos. No final do ano, fui
eleito “Revelação” do campeonato brasiliense de 2003 em votação feita pelo
Correio Braziliense.
Tive um maior destaque no Ceilândia, onde fiquei por três anos (2004 a 2006, sendo
vice-campeão em 2005 e artilheiro do campeonato de 2006). Ainda em 2005, disputei
a Série B do Campeonato Brasileiro pelo Gama, onde fiz minha estreia no dia 23
de abril e saí de campo com uma fratura no tornozelo direito. Retornei em 15 de
julho de 2005. Logo depois, fui emprestado ao Treze, de Campina Grande (PB)
para a disputa do Campeonato Brasileiro da Série C. Marquei o gol da vitória de
1 x 0 sobre o ABC, de Natal (RN), com a cabeça enfaixada depois de receber 15
pontos; a classificação para as quartas-de-final veio através do desempate na
cobrança de pênaltis, quando eu cobrei o último e decisivo.
Nota: mais detalhes sobre esse jogo podem ser conferidos no link abaixo:
Disputei o campeonato brasiliense de 2007 pelo Brasiliense, quando conquistamos
o título. Fiz uma boa Série B no mesmo ano (ainda pelo Brasiliense) e fui para a
Coréia do Sul (onde joguei no Pohang Steelers, na temporada 2007/2008), China (Tianjin
Teda FC - 2008/2009) e Romênia (Unirea FC Auba Iulia, em 2009). Voltei ao
Brasil para jogar no Fortaleza, no início de 2010.
No link abaixo, um gol de Jonhes, defendendo o Fortaleza, sobre o Boca Juniors,
da Argentina, em 2010.
Outro gol de Jonhes pelo Fortaleza, desta vez contra o Tigres, pela Copa do
Brasil de 2010, pode ser conferido no link abaixo:
Em julho de 2010, retornei à Brasília, depois que fui contratado pelo Gama para
disputar a Série C do Campeonato Brasileiro.
Ainda joguei no CFZ em 2011, no Sobradinho em 2012 (Primeira Divisão) e
Brasília (Segunda Divisão, ajudando o clube a subir para a Primeira) e 45
minutos no Brazlândia, em 2013. Com alguns problemas físicos e pessoais, parei de
jogar em 2012.
Quais os títulos que conquistou no futebol, tanto em Brasília quanto fora dela?
Campeão brasiliense em 2002, pelo CFZ, e em 2007, pelo Brasiliense.
Campeão em 2007 da K-League (campeonato nacional da Coréia do Sul), pelo Pohang
Steelers.
Campeão cearense de 2010, pelo Fortaleza.
Onde e quando encerrou a carreira de jogador?
Considero que parei de jogar em novembro de 2012 quando ajudamos o Brasília a
subir para a Primeira Divisão. Depois disso cheguei a jogar 45 minutos pelo Brazlândia,
em 2013, a pedido do meu amigo Marcos Soares, que era treinador na ocasião, mas
não pude continuar.
Depois que encerrou a carreira de jogador, exerceu alguma atividade relacionada
ao futebol, tais como treinador, dirigente de clube, árbitro de futebol,
massagista, preparador físico etc.?
Mesmo quando ainda jogava no início da carreira eu já fazia Educação Física na Faculdade
Católica e treinava a escolinha de futsal do colégio La Salle e do Águas Claras
F. C. e isso despertou o interesse de ser treinador. Após parar de jogar, fui
convidado pelo Gauchinho, que era o técnico do Brasília na época, para ser seu
auxiliar. Aceitei e logo chegamos à final do campeonato de 2013, onde tivemos a
honra de inaugurar o novo Estádio Nacional Mané Garrincha, perdendo a final,
mas foi ótimo para o clube, com todos os objetivos alcançados. Fiquei até 2014
e já com o Marcos Soares saímos invictos. Por situações próprias do futebol, logo
apareceu a oportunidade de ir para o Brasiliense e lá fiquei como auxiliar e
depois como treinador principal.
Após minha saída do Brasiliense, procurei aperfeiçoamento no Curso de Formação
de Treinadores promovido pela CBF na Granja Comary, no Rio de Janeiro, e desde
agosto encontro-me no Japão, na cidade de Higashikawa, onde estou trabalhando
como orientador esportivo, mais conhecido como Sports Exchange Advisor (SEA).
Fui o único profissional do Brasil a ter a oportunidade de trabalhar em
instituições esportivas e secretarias de esportes regionais na disseminação do
futebol, uma enorme chance de abrir portas no futebol asiático. Essa atividade,
que terá a duração de um ano, com possibilidade de renovação, surgiu depois que
fui indicado pela Assessoria Internacional do Governo Federal para a Embaixada
do Japão. Após a indicação, passei por um processo seletivo, sendo o único
brasileiro a figurar no projeto da prefeitura da cidade japonesa.
Irei comandar atividades nas escolas e universidades e poderei realizar
diversas funções envolvendo o futebol, tais como: assistência a atividades
esportivas realizadas pelo contratante, assistência ao treinamento esportivo de
atletas locais promissores, assistência ao treinamento esportivo de escolares
ou membros da comunidade local, assistência e participação no planejamento dos
eventos esportivos realizados pelas organizações competentes, além de outras
funções determinadas pelo contratante.
Antes de ir para o Japão, procurei investir no aprimoramento e na busca de
novos horizontes para a minha carreira de treinador, realizando estágio no
Bayern Munich, em outubro de 2013, e um curso na Juventus Soccer School
International, em outubro de 2014.
Completando meu currículo, graduei-me em Educação Física pela Faculdade Albert
Einstein, do DF, e fiz Pós-Graduação em Futebol e Futsal pela mesma Albert
Einstein.
Qual sua opinião sobre o futebol de Brasília, sabidamente um futebol que não é
valorizado pela imprensa brasileira?
O futebol de Brasília sofre com o aspecto cultural da cidade, que respira política
e economia. Em Brasília seu filho nasce e você fala para ele que tem que
estudar para passar num concurso público, enquanto nas demais cidades o grande
sonho dos pais e filhos é serem jogadores. Apesar disso temos muita gente
apaixonada pelo esporte e que sonha em viver apenas dele. Temos excelentes
jogadores, assim como em outros centros, apenas não são explorados e nem
trabalhados. Tivemos grandes jogadores de nível nacional e internacional que
saíram daqui. Muitos ninguém conhece e nem mesmo sabem como fizeram para
conseguir, pois as notícias de Brasília não são interessantes para o resto do País.
Precisamos voltar a ter clubes nas séries A e B do Campeonato Brasileiro, para
termos o respeito nacional. Isso não tem como comprar, você conquista com
planejamento e muito trabalho em conjunto.
O que o futebol de Brasília tem de fazer para se tornar um dos melhores do
Brasil?
É triste para nós que somos filhos desse futebol, ver essa situação. Infelizmente
não vejo melhoras a curto prazo, pois precisamos de planejamento em todos os
setores. Penso que temos que parar de procurar culpados, os clubes apontam a
federação, mas também não se preocupam em profissionalizar. Os dirigentes, na
sua grande maioria, não são qualificados para tal função. Na federação, da
mesma forma, faltam profissionais com qualificação e certificação. Hoje temos
uma nova safra de treinadores vindo por aí, muito boa, pessoas que estão hoje a
frente dos clubes e dos dirigentes em se tratando de busca de qualificação e
conhecimento, exemplo: Marcos Soares, Túlio Lustosa, Gabriel Magalhães, Rafael
Toledo, Jair, Luiz Carlos, eu é claro, entre outros, já antigos e bons
treinadores. Os atletas também tem sua parcela de culpa, precisam ser mais
profissionais em todos os sentidos da palavra. A imprensa, por sua vez, tem
papel fundamental nesse processo, não só em apontar falhas, como mostrar nossas
virtudes também, valorizando mais nosso produto. Assim, a imprensa de fora de
Brasília vai reproduzir esse reflexo.
Você acredita que a inauguração do novo Mané Garrincha trará evolução ao
futebol brasiliense?
Antes da inauguração até cheguei a pensar, mas agora vejo que não somou nada, pelo
contrário, gerou foi mais transtornos, pois os clubes não têm condições de
abrigarem seus jogos lá e nem o governo e nem a federação dão algum tipo de
subsídio. É como você ter uma Ferrari e não ter dinheiro para colocar gasolina,
e ainda tem que emprestá-la para quem tem dinheiro andar, mas ela é sua (risos).
Você considera que os grandes jogadores do futebol de Brasília tem categoria
suficiente para atuar em qualquer clube do Brasil?
Nós temos alguns jogadores que chegaram a jogar em grandes clubes ou em grandes
competições e outros que tem condições sim para isso, mas devido à falta de
estrutura, oportunidade e às vezes necessidade financeira, ficam pelo meio do
caminho e acabam no futebol amador.
Se você fosse formar a Seleção Brasiliense de Todos os Tempos, quais seriam os
onze jogadores que formariam a equipe titular e os onze que seriam reservas
imediatos?
Essa é difícil, pois não tenho boa memória. Vou falar de alguns mais recentes e
adotando o critério de participação no Campeonato Brasiliense:
Goleiros: Ronaldo Aranha e Donizete
Laterais Direito: Paulo Henrique e Patrik
Laterais Esquerdo: Augusto e Kaká
Zagueiros: Nem, Jairo, Gerson e Padovani
Volantes: Coquinho, Deda, Pituca e Agenor
Meias: Rodriguinho, Iranildo, Allann Delon e Maninho
Atacantes: Cassius, Joãozinho e Jonhes.
Quais foram os três melhores treinadores do futebol de Brasília com quem você
pôde trabalhar?
Reinaldo Gueldini, Mauro Fernandes e Roberto Fernandes.
E os três melhores dirigentes?
Ricardo Freitas, Paulo Henrique e Vilson de Sá.
Dá para se falar que existem grandes rivalidades no futebol de Brasília?
No passado existiu muito mais, agora a maior ainda é Brasiliense x Gama
Você tem aquele jogo que considera inesquecível?
A gente sempre tem vários jogos inesquecíveis, mas vou citar um, não tão
importante, mas foi marcante na minha vida. Bandeirante e Sobradinho, jogo de
abertura do Campeonato Brasiliense de 2003, no dia 19 de janeiro, no Rorizão. Eu
estava no banco de reservas do Bandeirante. Estávamos perdendo de 3 x 0. Com
uns 20 minutos do segundo tempo, o treinador Nilson Ramos me chamou. Quando
esperava a bola parar, para entrar em campo, tomamos o quarto gol. Meu primeiro
toque na bola foi para dar o reinício do jogo. Logo em seguida eu fiz dois gols,
dei um passe para Mário Zan marcar o outro aos 45 minutos do 2º tempo e nos
acréscimos, marquei mais um gol, empatando o jogo. Foi incrível, muito raro
acontecer isso e na ocasião o goleiro do Sobradinho era o Tobias.
Esqueça um pouco a modéstia e fale de suas características dentro de campo.
Eu não tenho vaidade nenhuma em falar de minhas características. Eu sempre fui
um jogador limitado tecnicamente, mas sempre tive muita coragem e personalidade
para jogar. Sabia das minhas limitações, então procurava explorar o que tinha
de melhor, que era o bom porte físico e um excelente cabeceio.
Quem era o seu ídolo no futebol? Teve oportunidade de estar em um campo de
futebol ao lado dele?
Toda criança tem vários ídolos, mas na época que começava a entender mais do
futebol, o Túlio Maravilha estava no Botafogo e meu pai era botafoguense doente.
Então, até pela posição de goleador, passei a admirá-lo. Tempos depois, em 2003,
estava eu disputando artilharia do campeonato de Brasília com ele, eu no Bandeirante
e Túlio no Brasiliense. Por sinal, fiz somente um gol a menos que ele nesse
campeonato: 7 x 8 (risos).
ACERVO ICONOGRÁFICO
![]() |
No Ceilândia |
![]() |
No Brasiliense |
![]() |
No Pohang Steelers |
![]() |
No Pohang Steelers, com Andrezinho |
![]() |
No Tianjin Teda, da China |
![]() |
No Fortaleza |
![]() |
Fortaleza campeão |
![]() |
No CFZ |
![]() |
No Sobradinho |
![]() |
No Brasília |
![]() |
Treinador no Brasiliense |
![]() |
Curso na CBF |
![]() |
Na CBF, com Pedrinho |
![]() |
Na CBF, com Sangaletti e David |
![]() |
Estágio no Bayern Munich, com Pep Guardiola |
![]() |
Na Juventus School |