quinta-feira, 24 de agosto de 2023

OS TÉCNICOS DO FUTEBOL BRASILIENSE: Bugue




Joaquim Cristiano de Araújo Neto, o Bugue, nasceu no dia 24 de agosto de 1942, em Paracatu (MG), onde começou a jogar futebol em uma equipe chamada Liga Católica Esporte Clube (atual União Esporte Clube), em 1950, como infanto-juvenil.
Mais tarde, foi tricampeão adulto de sua cidade e jogou em vários outros clubes de cidades do interior de Minas Gerais, como João Pinheiro, Monte Carmelo e Unaí, até chegar a Brasília em 1960.
Sempre atuando como volante clássico, defendendo o Real foi vice-campeão da Segunda Divisão de Brasília em 1960 e considerado a revelação do campeonato. Logo depois que foi convocado para uma seleção brasiliense da Primeira Divisão que enfrentou o Fluminense, do Rio de Janeiro, no dia 2 de julho de 1961, deixou o Real e passou para o Grêmio.
De 1961 a 1964, jogou pelo Grêmio Esportivo Brasiliense. Nesse último ano, foi novamente convocado para a seleção brasiliense que enfrentou o Treze, de Campina Grande (PB) no dia 10 de setembro de 1964.
Quando o Guará retornou ao futebol de Brasília, em 1965, Bugue foi um dos jogadores que o clube pensou em contratar para compor seu elenco. Num ano em que foram disputados dois campeonatos (amadores e profissionais), Bugue andou jogando alguns amistosos pelo Guará, mas disputou o campeonato brasiliense de amadores pelo Grêmio.
No começo de 1966 transferiu-se para o Defelê, clube pelo qual disputou o campeonato brasiliense desse ano. Em 1967 teve uma fratura no pé e ficou parado quase um ano.
Voltou para o Grêmio em 1968, ano em que chegou a disputar um amistoso pela seleção brasiliense, e foi vice-campeão brasiliense de 1969.
Em 1970, disputou dois amistosos pelo Coenge, depois foi contratado pelo Serveng-Civilsan, por onde disputou o Torneio “Hélio Prates da Silveira”, mas quando o campeonato brasiliense desse ano começou Bugue passou a ser o novo treinador do Grêmio, fazendo sua estreia no dia 13 de setembro de 1970, no empate de 3 x 3 com o Piloto. Quis o destino que o Grêmio enfrentasse o Serveng-Civilsan na final do campeonato de 1970. Após três jogos (com duas vitórias do Grêmio), Bugue pôde comemorar seu primeiro título de campeão brasiliense como técnico.
Continuou como técnico do Grêmio nos anos de 1971 e 1972, neste último voltando a entrar em campo para disputar alguns jogos pelo campeonato brasiliense.
Do Grêmio saiu para dirigir o Serviço Gráfico no campeonato brasiliense de 1973 e em agosto desse mesmo ano voltou para o Grêmio.
Se afastou do futebol por um período e retornou em 1976, quando o profissionalismo engatinhava no futebol brasiliense. Bugue foi o treinador do Humaitá, do Guará. Foi eleito o melhor técnico do 1º turno do campeonato brasiliense pela editoria de esportes do Correio Braziliense e do Jornal de Brasília. No 2º turno, foi para os juniores do Ceub e terminou sendo o último treinador desse clube no profissional em 1976. Logo depois, o Ceub fechou suas portas.
Voltou ao Grêmio em 1977 e no dia 21 de abril desse ano, no 17º aniversário de inauguração de Brasília, foi o técnico da seleção do DF no amistoso contra o Atlético Mineiro. Em 1978, juntamente com vários jogadores do Grêmio, foi para o Corinthians, do Guará. No dia 26 de março de 1978 estreou no Torneio Incentivo daquele ano, vencendo a Desportiva Bandeirante por 1 x 0. Foi o treinador desse mesmo Corinthians quando da inauguração do estádio do CAVE, no Guará, em 16 de abril de 1978. Também neste ano, fez um estágio no Vasco da Gama, do Rio de Janeiro.
Chegou ao Gama em 1979, fazendo sua estreia no dia 25 de fevereiro desse ano, na vitória de 3 x 1 sobre o Anápolis (GO). O Gama foi vice-campeão do Torneio Seletivo. Bugue foi o treinador da seleção do DF no amistoso contra a Seleção de Goiás, no dia 22 de abril de 1979. Ao final do 1º turno, Bugue deixou o Gama, que acabaria conquistando seu primeiro título de campeão brasiliense em 1979. Ainda em 1979 dirigiu a Seleção Brasiliense de Juvenis, que pela primeira vez levou o futebol do DF da categoria a se classificar para uma fase posterior à inicial, disputando a classificação contra Rio de Janeiro, Goiás, Espírito Santo e Mato Grosso.
No final do mês de novembro de 1979 Bugue foi contratado pelo Brasília. No ano seguinte, tornou-se campeão brasiliense invicto, com o Brasília vencendo os três turnos disputados. Foi o treinador do Brasília no Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão (hoje Série B). No final deste ano teve duas alegrias e uma tristeza. Foi apontado como melhor técnico do ano no futebol brasiliense pelo Jornal de Brasília e teve atuou ao lado do lendário Mané Garrincha num amistoso da seleção da AGAP/DF contra a Seleção da ASSEFE, no campo da Associação dos Servidores do Senado Federal. A tristeza ficou por conta de não ver seu trabalho valorizado pela direção do Brasília, clube que deixou em 11 de dezembro de 1980.
Transferiu-se para o Taguatinga em 1981, levando-o a vencer o Torneio Seletivo que tinha como finalidade apontar o representante do DF para o Campeonato Brasileiro da Terceira Divisão (Taça de Bronze) de 1981. No campeonato brasiliense desse ano, deixou a chance de conquistar o 1º turno escapar após cobrança de pênaltis diante do Guará. Seu último jogo pelo Taguatinga foi em 19 de julho de 1981, no CAVE, diante do Gama. No mês seguinte, aceitou o convite da Anapolina (GO), levando o clube a somar o maior número de pontos e à final do campeonato goiano frente ao Goiás. Depois de três empates, a Anapolina perdeu o título no “tapetão”.
No ano seguinte levou o time goiano à sua melhor participação na história do campeonato brasileiro (décimo lugar no geral), com o clube sendo apontado como a grande sensação do Campeonato Brasileiro - Taça de Ouro de 1982 ao vencer Fluminense (uma vez), Cruzeiro (duas) e São Paulo (uma), finalizando com dez vitórias, dois empates e quatro derrotas.
Mesmo com esse ótimo desempenho, em 16 de março de 1982 Bugue pediu demissão.
Em setembro de 1982 foi para o Uberlândia (MG). Conquistou o Torneio Início e também levou a equipe ao terceiro lugar no campeonato mineiro, além de ser indicado para o prêmio de melhor técnico do campeonato, perdendo somente para o renomado Yustrich.
No dia 20 de outubro de 1982, Bugue foi homenageado no Jockey Clube de Paracatu com um troféu, a ser disputado entre o Brasília e o Santana, campeão de Paracatu. O Brasília conquistou o troféu “Taça Doutor Almir Alaor Adjuto”, com a vitória de 2 x 1.
Em janeiro de 1983 voltou para o Brasília e comandou o time no Campeonato Brasileiro desse ano. No dia 4 de outubro de 1983 assumiu o Atlético Goianiense, fazendo um bom trabalho, a ponto de ser indicado por Cláudio Garcia para ser treinador do Fluminense, do Rio de Janeiro.
Leiam o que a edição de O Globo, de 12.09.1983, dizia:
‘BUGUE VEM AO RIO PARA SER TÉCNICO”
Belo Horizonte (O Globo)
Joaquim Cristiano, o Bugue, pouco conhecido no Rio, mas com prestígio no futebol goiano e mineiro, poderá ser o novo técnico do Fluminense, se for confirmada a transferência de Cláudio Garcia para o Flamengo. Cristiano, que dirigia o Uberlândia no começo da última semana, rescindiu o contrato e viajou para o Rio.
Cristiano trabalhava no futebol goiano, onde ganhou fama. No início da temporada do futebol mineiro foi contratrado pelo Uberlândia. No primeiro turno do campeonato, o Uberlândia fez boa campanha e apresentou uma equipe bem armada, sobretudo nos jogos contra as principais equipes de Minas, Atlético, Cruzeiro e América.
Apesar de ter garantido a classificação para a fase final do Campeonato Mineiro, Cristiano rescindiu seu contrato, antes mesmo de ser anunciado o interesse do Flamengo em Cláudio Garcia. No fim de semana ele foi ao Rio e disse que assistiria à decisão da Taça Guanabara, com possibilidades de assinar contrato com o Fluminense”.
O Jornal de Brasília trouxe em sua edição de 13.09.1983: BUGUE É INDICADO PARA DIRIGIR FLU - O treinador Bugue, que foi auxiliar de Cláudio Garcia nos primeiros tempos de profissionalismo no futebol candango, poderá ser o novo técnico do Fluminense. Cláudio o indicou à diretoria do tricolor assim que decidiu sair para assumir o comando do Flamengo”.
Na edição de 14.09.1983, o mesmo jornal carioca traz a seguinte notícia: “FLU FAZ LISTA DOS POSSÍVEIS TÉCNICOS - A relação de nomes de técnicos é grande, porém os mais comentados ontem à tarde no Fluminense, para ocupar o cargo deixado por Cláudio Garcia, eram Alcir Portela, ex-jogador do Vasco e atualmente treinando o Olaria; Carbone, ex-jogador do Botafogo e agora dirigindo o Goytacaz; Geraldinho Damasceno, do Figueirense; Candinho, da Portuguesa de Desportos, e Bugue, ex-Uberlândia”.
Já o Jornal de Brasília do mesmo dia trazia a seguinte manchete: “FLU FAZ PROPOSTA A BUGUE PARA SER SEU NOVO TÉCNICO - Bugue no Fluminense. A possibilidade do treinador candango ocupar o lugar deixado por Cláudio Garcia no atual campeão da Taça Guanabara aumentou muito na tarde de ontem, quando dirigentes da equipe tricolor (que o técnico preferiu não revelar quem são) ligaram para o Hotel Presidente, em Uberlândia, onde Bugue está hospedado, sondando-o sobre a hipótese de assumir o comando técnico do time: - Eu dizia que existem mais de 50 por cento de chances de eu ocupar o cargo de treinador do Fluminense, mas não há, por enquanto, absolutamente nada de concreto - dizia, cauteloso, o técnico Bugue em entrevista exclusiva concedida ontem à noite ao Jornal de Brasília. - A verdade é que existe muita gente no páreo e eu, como treinador de pouco renome a nível nacional, entraria quase como um “azarão”. Mas, efetivamente, recebi um telefonema do Fluminense sobre o assunto”.
Dias depois, Carbone foi confirmado como técnico do Fluminense.
No final de 1983 e começo de 1984, Bugue foi o treinador da Seleção Goiana de juniores que ficou em terceiro lugar no Campeonato Brasileiro da categoria (perdeu a chance de ir para a final no sorteio, para o Rio de Janeiro). Saiu do Atlético Goianiense em 31 de dezembro de 1984.
Em 1985 voltou ao Uberlândia e treinou essa equipe no Campeonato Brasileiro daquele ano.
Em 1986 treinou o Matsubara, do Paraná, e voltou para Brasília em 30 de outubro de 1986, para comandar o Sobradinho na segunda fase da Taça de Prata. Depois treinou o Ferroviário, de Tubarão.
Assumiu o América, de Belo Horizonte (MG) no dia 10 de junho de 1987. No campeonato mineiro lançou o jogador Palhinha (campeão mundial pelo São Paulo) e pediu demissão no dia 13 de outubro de 1987.
No ano de 1988 treinou três times do futebol goiano. Primeiro, foi para o Atlético Goianiense, onde assinou contrato no dia 5 de janeiro de 1988. Pouco mais que dois meses depois, passou a ser treinador da Anapolina, pedindo demissão do cargo em 15 de maio, indo para o América, de Morrinhos, dez dias depois.
Ainda em 1988 foi campeão amazonense pelo Rio Negro, de Manaus (AM).
Depois trabalhou no União, de Paracatu, na segunda divisão do Campeonato Mineiro.
Em janeiro de 1991 assinou contrato para ser o treinador do Taguatinga no Campeonato Brasileiro da Série B.
Tiradentes
Em 1993 assumiu o Brasília no 2º turno do campeonato do DF.
Em 2000 esteve no Gama, em 2002 no Luziânia e em 2004 no Sobradinho, onde pediu demissão alegando falta de profissionalismo do clube. Foi o último clube dirigido por Bugue.
Em 2009, Bugue foi homenageado pelo Memorial Gamense por ter participado, como mentor, do time do Gama campeão pela primeira vez do campeonato brasiliense em 1979, em jogo comemorativo no Estádio Bezerrão, com a presença dos jogadores que participaram daquela campanha.
Segundo Bugue, seu trabalho foi inspirado em Hector Gritta, técnico argentino que trabalhou em Brasília nas décadas de 60 e 70, pois Gritta transmitia confiança aos jogadores e gostava do toque de bola rasteiro, próprio do futebol arte. Outra inspiração foi Telê Santana, por quem tinha grande admiração e passou a ter contato quando militou no futebol mineiro, Bugue no América e Telê Santana no Atlético.