No dia 25 de dezembro de 1982, aos 49 anos, Garrincha desembarcava no aeroporto de Brasília para fazer aquela que seria a última partida de sua vida (morreria poucos dias depois, em 20 de janeiro de 1983).
Às 15:30 horas entrava em campo com a camisa número sete de um time amador de
Planaltina, o Londrina, para enfrentar uma seleção da AGAP - Associação de
Garantia ao Atleta Profissional/DF.
O jogo foi no Estádio Adonir Guimarães, em Planaltina, e Garrincha jogou
exatamente 60 minutos.
A seleção da AGAP começou o jogo com 1. Paulo Victor, 2. Robson Nonato, 3. Luiz
Fernando Sucupira, 4. Adelmar Carvalho Cabral “Déo”, 5. Antônio Carlos Nicolau
“Barão”, 6. Marcelino Teixeira de Carvalho “Marcelo”, 7. Rodolfo Nogueira
Junior, 8. Antônio Vieira Lima, 9. Nicácio Apolinário da Silva Filho, 10. Éder
Antunes Morgado e 11. Jorge França. Na suplência: 13. Decleudes Rodrigues Costa.
O Londrina entrou em campo com 1. Luís Ribeiro, 2. Joel Rodrigues Pauferro, 3. Vicente
Cândido da Silva, 4. Antônio Esteves de Oliveira, 5. Israel Rodrigues Pauferro,
6. José Amauri de Carvalho, 7. Manoel dos Santos “Garrincha”, 8. Sebastião
Ferreira Mafra, 9. Paulo Lira, 10. Sebastião Jorge e 11. Joel Apolinário da
Silva. No banco de reservas estavam: 12. Valdmar Pereira da Silva, 14. José
Jorge Ramos Pires, 15. Geraldo Martins de Oliveira e 16. Cirilo César Filho.
A AGAP venceu por 1 x 0, gol de Éder Antunes, aos 20 minutos do segundo tempo. O
árbitro desse jogo foi Eano do Carmo Corrêa, da Federação Metropolitana de
Futebol.
PERSONAGENS DO JOGO
O ORGANIZADOR
Manoel Esperidião Pereira, o Manoelzinho, foi quem organizou a última partida
de Garrincha. Até hoje ele guarda todo o material usado por Garrincha nesse
jogo.
Natural de Caraúba, Paraíba, onde nasceu a 5 de setembro de 1938, Manoelzinho
foi jogador de futebol profissional no Santa Cruz, de Recife (PE), River, de
Teresina (PI), Treze, de Campina Grande (PB), América, do Rio de Janeiro (RJ),
Arica, da Venezuela, e Defelê, de Brasília, onde encerrou a carreira após dez
anos de casa.
Sua amizade com Garrincha começou através de Ivan, ex-jogador do América e do
Botafogo, seu cunhado, que um dia de 1960 o levou até Raiz da Serra, onde
sempre era possível encontrar o jogador do Botafogo.
Nos últimos anos de vida, Garrincha chegou a manifestar o desejo de treinar uma
equipe de Brasília. Sabendo que Garrincha não estava bem financeiramente, Manoelzinho
tratou de arrumar esse jogo beneficente.
O PATROCINADOR
Antônio Teodoro Ribeiro nasceu em Formosa (GO), em 11 de janeiro de 1958. Foi
um dos fundadores do Londrina, juntamente com Hélio Crescêncio da Silva,
Sebastião Mafra e Miguel Aguiar, dentre outros, no dia 14 de outubro de 1976.
Mas, desde 1974 que ele lidava com futebol, no União, de Planaltina.
Para patrocinar o jogo, ele gastou cerca de 350 mil cruzeiros, 200 mil para
Garrincha, enquanto os 150 mil restantes entraram nas despesas com passagens e
hospedagens.
Na época do jogo, o Londrina estava com suas atividades paralisadas. Estava
tentando se profissionalizar para disputar o campeonato brasiliense, mas perdeu
a vaga para o Vasco da Gama de Carlos Fernando Cardoso Neto. Até então havia
conquistado 32 troféus e foi campeão amador de Planaltina em sete
oportunidades.
O ÁRBITRO
Eano Carmo Correa foi o árbitro do último jogo de Garrincha. Por coincidência,
também foi quem atuou como árbitro do último jogo do Ceub.
Nasceu em Porto Real do Colégio, em Alagoas, no dia 5 de junho de 1937. Depois
de apitar algumas peladas em Raiz da Serra, fez curso de arbitragem na
Federação Metropolitana de Futebol e desde 1966 apitava jogos em Brasília. Guardou
a súmula do último jogo de Garrincha e na época havia a informação de que iria
cedê-la para a Fundação Cândido Mendes, do Rio de Janeiro, que estava
organizando a memória do esporte brasileiro.
O SUBSTITUTO
Valdmar Pereira da Silva, natural de São Domingos (GO), onde nasceu a 3 de
fevereiro de 1960, jamais imaginou que um dia viria a substituir Garrincha em
uma partida de futebol e muito menos que fosse seu último substituto.
Ele guarda a foto que tirou com Garrincha com muito cuidado e lamentava que
nunca o tivesse visto jogar.
Aos 15 minutos do segundo tempo, quando o substituiu, Valdmar sentiu uma emoção
muito grande. Teve a sensação de que era o próprio Garrincha entrando em campo.
Valdmar começou a jogar futebol em 1974, num time amador chamado União. Em 1976
foi para o Londrina e lá jogou sempre como ponta-direita, embora tivesse
começado como centro-avante. No Londrina ajudou o time a ganhar a maioria dos
seus troféus.
O ÚLTIMO “JOÃO”
Nascido a 8 de março de 1958, em Recife (PE), Marcelino Teixeira de Carvalho,
chamado de Marcelo, foi o último marcador de Garrincha. Sem querer dificultar,
Marcelo procurou fazer apenas uma marcação de cerco. Foi “João” de Garrincha
por quatro lances. Num deles, Garrincha partiu para cima dele com a bola
dominada, gingou, passou e cruzou, embora o lance não tivesse resultado em
nada.
Marcelo bateu muitas peladas de ruas em sua cidade, mas foi em 1976, no Ceub,
que começou a carreira no futebol. Era ponta-esquerda do time juvenil do Ceub.
Em 1977, foi para o Flamengo. Depois disso, esteve no Paysandu, de Belém (PA),
e virou lateral-esquerdo. Em 1980, veio para o Gama e foi vice-campeão
brasiliense e campeão da Copa Centro-Oeste. Em 1981 estava no Guará e por
aquele clube foi duas vezes vice-campeão.
A ÚLTIMA BARREIRA
Embora fazendo questão de ressaltar que não gostaria que isso tivesse
acontecido, o goleiro Paulo Victor defendeu as últimas duas bolas chutadas a
gol por Mané Garrincha. No primeiro chute de Garrincha, teve que mostrar muito
arrojo para tocar para escanteio uma bola que partiu de uma cobrança de falta
da entrada da área. Na segunda, também teve que mandar para escanteio. Dois
jogadores cercaram Garrincha, mas ele se livrou deles e cruzou para dentro da
área, com a bola indo para dentro da sua meta.
Passando férias em Brasília na época do jogo, o goleiro Paulo Victor só havia
visto Garrincha jogar uma vez, em março de 1969, quando tinha treze anos de
idade e o Flamengo veio enfrentar uma seleção brasiliense, no Pelezão, vestindo
a camisa sete do rubro-negro carioca.
Paulo Victor Barbosa de Carvalho nasceu em Belém (PA), em 7 de junho de 1957. Começou
a jogar futebol com Airton Nogueira, nos infantis do Defelê. Depois defendeu a
AABB, Novacap, Ceub e vários outros clubes do futebol brasileiro. Defendeu a
Seleção Brasileira em oito oportunidades, a primeira delas em junho de 1984,
ano em que foi campeão brasileiro defendendo o Fluminense.
Obs.: As fotos foram cedidas por Ermelindo Alves de Oliveira Junior, atual
presidente do Londrina.
Confira
também uma matéria especial sobre esse jogo:
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