sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

O ÚLTIMO JOGO DE GARRINCHA


No dia 25 de dezembro de 1982, aos 49 anos, Garrincha desembarcava no aeroporto de Brasília para fazer aquela que seria a última partida de sua vida (morreria poucos dias depois, em 20 de janeiro de 1983). 
Às 15:30 horas entrava em campo com a camisa número sete de um time amador de Planaltina, o Londrina, para enfrentar uma seleção da AGAP - Associação de Garantia ao Atleta Profissional/DF. 
O jogo foi no Estádio Adonir Guimarães, em Planaltina, e Garrincha jogou exatamente 60 minutos.
A seleção da AGAP começou o jogo com 1. Paulo Victor, 2. Robson Nonato, 3. Luiz Fernando Sucupira, 4. Adelmar Carvalho Cabral “Déo”, 5. Antônio Carlos Nicolau “Barão”, 6. Marcelino Teixeira de Carvalho “Marcelo”, 7. Rodolfo Nogueira Junior, 8. Antônio Vieira Lima, 9. Nicácio Apolinário da Silva Filho, 10. Éder Antunes Morgado e 11. Jorge França. Na suplência: 13. Decleudes Rodrigues Costa.
O Londrina entrou em campo com 1. Luís Ribeiro, 2. Joel Rodrigues Pauferro, 3. Vicente Cândido da Silva, 4. Antônio Esteves de Oliveira, 5. Israel Rodrigues Pauferro, 6. José Amauri de Carvalho, 7. Manoel dos Santos “Garrincha”, 8. Sebastião Ferreira Mafra, 9. Paulo Lira, 10. Sebastião Jorge e 11. Joel Apolinário da Silva. No banco de reservas estavam: 12. Valdmar Pereira da Silva, 14. José Jorge Ramos Pires, 15. Geraldo Martins de Oliveira e 16. Cirilo César Filho.
A AGAP venceu por 1 x 0, gol de Éder Antunes, aos 20 minutos do segundo tempo. O árbitro desse jogo foi Eano do Carmo Corrêa, da Federação Metropolitana de Futebol.

PERSONAGENS DO JOGO

O ORGANIZADOR

Manoel Esperidião Pereira, o Manoelzinho, foi quem organizou a última partida de Garrincha. Até hoje ele guarda todo o material usado por Garrincha nesse jogo.
Natural de Caraúba, Paraíba, onde nasceu a 5 de setembro de 1938, Manoelzinho foi jogador de futebol profissional no Santa Cruz, de Recife (PE), River, de Teresina (PI), Treze, de Campina Grande (PB), América, do Rio de Janeiro (RJ), Arica, da Venezuela, e Defelê, de Brasília, onde encerrou a carreira após dez anos de casa.
Sua amizade com Garrincha começou através de Ivan, ex-jogador do América e do Botafogo, seu cunhado, que um dia de 1960 o levou até Raiz da Serra, onde sempre era possível encontrar o jogador do Botafogo.
Nos últimos anos de vida, Garrincha chegou a manifestar o desejo de treinar uma equipe de Brasília. Sabendo que Garrincha não estava bem financeiramente, Manoelzinho tratou de arrumar esse jogo beneficente.

O PATROCINADOR

Antônio Teodoro Ribeiro nasceu em Formosa (GO), em 11 de janeiro de 1958. Foi um dos fundadores do Londrina, juntamente com Hélio Crescêncio da Silva, Sebastião Mafra e Miguel Aguiar, dentre outros, no dia 14 de outubro de 1976. Mas, desde 1974 que ele lidava com futebol, no União, de Planaltina.
Para patrocinar o jogo, ele gastou cerca de 350 mil cruzeiros, 200 mil para Garrincha, enquanto os 150 mil restantes entraram nas despesas com passagens e hospedagens.
Na época do jogo, o Londrina estava com suas atividades paralisadas. Estava tentando se profissionalizar para disputar o campeonato brasiliense, mas perdeu a vaga para o Vasco da Gama de Carlos Fernando Cardoso Neto. Até então havia conquistado 32 troféus e foi campeão amador de Planaltina em sete oportunidades.

O ÁRBITRO

Eano Carmo Correa foi o árbitro do último jogo de Garrincha. Por coincidência, também foi quem atuou como árbitro do último jogo do Ceub.
Nasceu em Porto Real do Colégio, em Alagoas, no dia 5 de junho de 1937. Depois de apitar algumas peladas em Raiz da Serra, fez curso de arbitragem na Federação Metropolitana de Futebol e desde 1966 apitava jogos em Brasília. Guardou a súmula do último jogo de Garrincha e na época havia a informação de que iria cedê-la para a Fundação Cândido Mendes, do Rio de Janeiro, que estava organizando a memória do esporte brasileiro.

O SUBSTITUTO

Valdmar Pereira da Silva, natural de São Domingos (GO), onde nasceu a 3 de fevereiro de 1960, jamais imaginou que um dia viria a substituir Garrincha em uma partida de futebol e muito menos que fosse seu último substituto.
Ele guarda a foto que tirou com Garrincha com muito cuidado e lamentava que nunca o tivesse visto jogar.
Aos 15 minutos do segundo tempo, quando o substituiu, Valdmar sentiu uma emoção muito grande. Teve a sensação de que era o próprio Garrincha entrando em campo.
Valdmar começou a jogar futebol em 1974, num time amador chamado União. Em 1976 foi para o Londrina e lá jogou sempre como ponta-direita, embora tivesse começado como centro-avante. No Londrina ajudou o time a ganhar a maioria dos seus troféus.

O ÚLTIMO “JOÃO”

Nascido a 8 de março de 1958, em Recife (PE), Marcelino Teixeira de Carvalho, chamado de Marcelo, foi o último marcador de Garrincha. Sem querer dificultar, Marcelo procurou fazer apenas uma marcação de cerco. Foi “João” de Garrincha por quatro lances. Num deles, Garrincha partiu para cima dele com a bola dominada, gingou, passou e cruzou, embora o lance não tivesse resultado em nada.
Marcelo bateu muitas peladas de ruas em sua cidade, mas foi em 1976, no Ceub, que começou a carreira no futebol. Era ponta-esquerda do time juvenil do Ceub. Em 1977, foi para o Flamengo. Depois disso, esteve no Paysandu, de Belém (PA), e virou lateral-esquerdo. Em 1980, veio para o Gama e foi vice-campeão brasiliense e campeão da Copa Centro-Oeste. Em 1981 estava no Guará e por aquele clube foi duas vezes vice-campeão.

A ÚLTIMA BARREIRA

Embora fazendo questão de ressaltar que não gostaria que isso tivesse acontecido, o goleiro Paulo Victor defendeu as últimas duas bolas chutadas a gol por Mané Garrincha. No primeiro chute de Garrincha, teve que mostrar muito arrojo para tocar para escanteio uma bola que partiu de uma cobrança de falta da entrada da área. Na segunda, também teve que mandar para escanteio. Dois jogadores cercaram Garrincha, mas ele se livrou deles e cruzou para dentro da área, com a bola indo para dentro da sua meta.
Passando férias em Brasília na época do jogo, o goleiro Paulo Victor só havia visto Garrincha jogar uma vez, em março de 1969, quando tinha treze anos de idade e o Flamengo veio enfrentar uma seleção brasiliense, no Pelezão, vestindo a camisa sete do rubro-negro carioca.
Paulo Victor Barbosa de Carvalho nasceu em Belém (PA), em 7 de junho de 1957. Começou a jogar futebol com Airton Nogueira, nos infantis do Defelê. Depois defendeu a AABB, Novacap, Ceub e vários outros clubes do futebol brasileiro. Defendeu a Seleção Brasileira em oito oportunidades, a primeira delas em junho de 1984, ano em que foi campeão brasileiro defendendo o Fluminense.












Obs.: As fotos foram cedidas por Ermelindo Alves de Oliveira Junior, atual presidente do Londrina.

Confira também uma matéria especial sobre esse jogo:

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