quarta-feira, 22 de junho de 2016

OS TÉCNICOS DO FUTEBOL BRASILIENSE: Martim Francisco


Exatamente num dia 22 de junho, de 1982, o futebol perdia Martim Francisco.

Descendente de ilustres brasileiros (era bisneto do Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva), Martim Francisco Ribeiro de Andrada nasceu em Barbacena (MG), no dia 21 de fevereiro de 1928.
Sua infância e adolescência foram vividas no Rio de Janeiro. Quando estudava no Colégio Anglo Americano, era muito amigo do filho de Ondino Vieira, técnico do Fluminense na época. Ele o apresentou ao treinador, que o levou para tentar a sorte como goleiro do juvenil do Fluminense. A carreira durou pouco e ele resolveu aceitar um convite de Ondino Vieira para assumir a direção técnica dos juvenis do tricolor carioca, onde foi bicampeão carioca da categoria em 1948 e 1949.
Logo depois, foi para Belo Horizonte e passou a trabalhar no Villa Nova (MG). Corria o ano de 1951 e tornou-se o treinador mais jovem do Brasil, com 21 anos de idade. Martim Francisco era mais novo que a maioria dos jogadores do Villa Nova.
Justamente nessa época é creditada a ele a criação do sistema 4-2-4. Até então, todos os times utilizavam o WM regular e o diagonal. Martim Francisco pegou todo mundo de surpresa e levou o Villa Nova ao título de campeão mineiro. Por coincidência, o técnico do Villa Nova no Torneio Municipal - anterior ao Estadual - era Juvenal Pereira, que anos depois viria a trabalhar no futebol brasiliense. No primeiro jogo válido pelo campeonato mineiro, em 22 de julho de 1951, Martim Francisco já era o técnico do Villa Nova.
Em 1952, no Siderúrgica, Martim tornou-se vice-campeão mineiro e foi com esse clube a uma excursão pelo Rio de Janeiro e São Paulo. O time conseguiu muitas vitórias e a crônica esportiva do Rio de Janeiro o título de Academia do Futebol Brasileiro.
Foi contratado pelo Atlético Mineiro em 1953, fazendo sua estreia no dia 8 de março, no amistoso Atlético Mineiro 1 x 2 Seleção Mineira.
Levou o clube ao bicampeonato de Minas Gerais, nos anos de 1953 e 1954. Também esteve no comando da Seleção Mineira.

Transferiu-se para o Rio de Janeiro, chegando ao América no meio do campeonato carioca de 1954. O América chegou à melhor de três com o Flamengo, mas na hora da decisão, Martim brigou com Giulite Coutinho (que depois viria a ser Presidente da CBD) e deixou o clube porque o América fez uma proposta muito ruim para ele renovar o contrato, oferecendo menos do que vinha recebendo. Martim pediu três dias para pensar e voltou para Belo Horizonte. Um dia depois já recebia um telefonema do Vasco da Gama para retornar ao Rio de Janeiro.
Antes, quando ainda estava no América, recebeu convite para ser treinador da Seleção Carioca.
Uma semana depois de deixar o América, transferiu-se para o Vasco da Gama, onde, três dias depois, embarcou com o clube para uma excursão vitoriosa à Europa.

Foi campeão carioca em 1956 com o Vasco da Gama e vice-campeão do Torneio Rio-São Paulo em 1957.
No final de 1958 foi para o Internacional, de Porto Alegre. No Estado quase ninguém acreditava que o grande Martim Francisco, cotado para ser o técnico da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Suécia, estava se mudando para o Sul do País. Foi vice-campeão da cidade de Porto Alegre de 1958.
Já havia recebido anteriormente convites para dirigir clubes europeus e em 1959 resolveu ir para a Espanha, dirigir ao Athletic de Bilbao. Com o Athletic foi terceiro colocado da Liga em duas ocasiões e sétimo em outra.
Ficou no Athletic de Bilbao até 1961. Em sua despedida, num jogo contra o Chelsea, da Inglaterra, o estádio estava lotado e Martim Francisco foi aplaudido, de pé, demoradamente.

Passou pelo Vasco da Gama em 1961 e no mesmo ano foi para o Corinthians, onde foi vice-campeão em 1962.
Depois comandou Villa Nova e Cruzeiro em 1963.
Em 1964 foi técnico do Atlético Mineiro e do Bangu.
Transferiu-se em seguida para a Espanha, onde foi treinar o Elche na temporada 1964-1965, obtendo a oitava colocação.
Do Elche foi para o Betis, em 1965, que esteve sob seu comando em 14 jogos.
Na temporada 1966-1967, dirigiu por poucos jogos o Deportivo Logronés, da Segunda Divisão espanhola.
Em 1967, retornou ao Brasil e levou o Bangu ao título da Copa dos Campeões Estaduais desse ano, um torneio organizado pela Federação Mineira de Futebol, e foi o treinador do Comercial, de Ribeirão Preto.

De novo no América em 1968, levou o clube ao título da Taça Guanabara. Também nesse ano foi técnico do Valeriodoce, de Itabira (MG).
Em 1970, dirigiu a A. A. Rodoviária, do Amazonas, que chegou em terceiro lugar na classificação final do campeonato estadual.
De lá foi para o Villa Nova, de Minas Gerais, onde realizou um bom trabalho, levando o clube à conquista do título de campeão invicto da Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro de 1972.
Dirigiu, na sequência, em 1973, o CRB, de Maceió-AL e o Vasco da Gama, de Passos-MG.
Convidado para organizar o Departamento de Futebol Amador do América, voltou para o Rio de Janeiro em 1975.
No ano seguinte, 1976, esteve no Goiânia, que foi vice-campeão estadual, mas ele não ficou lá até o final da campanha.
Em 1977 colaborou para o Villa Nova levantar o título de campeão da Taça Minas Gerais.
Antes de ir para o Gama, estava no Guarani, de Divinópolis, clube que dirigiu em 1978.

Quando chegou no Gama, o clube havia acabado de disputar o primeiro turno e de ter chegado na última colocação com uma vitória e quatro derrotas, o suficiente para ocasionar a demissão do técnico Bugue.
No dia 6 de junho de 1979, Martim Francisco fez sua estreia como novo técnico do Gama. Foi num amistoso contra o Santana, de Paracatu (MG), no estádio Bezerrão, com o time brasiliense goleando por 5 x 0.
De forma oficial, Martim Francisco dirigiu o Gama pela primeira vez quatro dias depois, com vitória de 4 x 2 sobre o Brasília, em jogo válido pelo segundo turno do campeonato brasiliense.
Daí em diante o Gama não perdeu mais. Venceu o segundo turno de forma invicta. Também sem derrotas, venceu o terceiro turno e foi para a decisão do campeonato com o Brasília, campeão do 1º turno.

Duas vitórias sobre o Brasília deram ao Gama o seu primeiro título de campeão brasiliense em sua história.
Ainda em 1979, Martim Francisco dirigiu o Gama no Campeonato Brasileiro e foi técnico da Seleção do DF Sub-20 que passou da primeira fase da competição, sendo eliminada na segunda.
No final desse ano, foi eleito o melhor técnico do Campeonato Brasiliense de 1979 pela a ABCD-Associação Brasiliense de Cronistas Desportivos.
No começo de fevereiro de 1980, quando ainda estava dirigindo a seleção brasiliense de juniores e antes do início do Campeonato Brasileiro, o Gama dispensou Martim Francisco, entendendo que o treinador encontrava-se com a saúde comprometida e que necessitaria de fazer um tratamento sério e assim pudesse reaver sua saúde.
Dessa forma, Martim Francisco foi parar no Taguatinga.
Foi o treinador da Seleção do DF que empatou, no dia 11 de janeiro de 1980, em 1 x 1, com a Seleção Brasileira de Juniores que se preparava para as eliminatórias dos Jogos Olímpicos de Moscou.
Também foi o treinador da Seleção do Distrito Federal que levou a melhor nos dois jogos diante da seleção goiana: 4 x 1 e 1 x 1.
E o Gama entendeu a burrada: chamou-o imediatamente de volta.
O jogo que marcou o retorno do técnico Martim Francisco ao Gama foi um amistoso contra o Uberlândia em 7 de maio de 1980.
Ainda dirigiu o Gama em sete jogos válidos pelo campeonato brasiliense de 1980, sem derrotas, o último deles em 2 de julho, na goleada de 5 x 1 sobre a Desportiva Bandeirante.
Ficou um tempo parado, cuidando de sua saúde. No dia 1º de novembro de 1980, voltou aos gramados, dirigindo a equipe do Tiradentes, que se preparava para disputar o chamado “Torneio da Morte”, um torneio de classificação para a Primeira Divisão de 1981, disputado pelos quatro últimos colocados de 1980. O Tiradentes venceu o torneio e se garantiu na principal divisão do futebol do DF em 1981.
Nos meses de janeiro e fevereiro de 1981, Martim Francisco ainda trabalhou como treinador do Tiradentes na Fase Regional do Torneio Seletivo do Campeonato Brasileiro da Terceira Divisão (Taça de Bronze). O Tiradentes venceu o segundo turno, mas na decisão perdeu a vaga para o Taguatinga (campeão do 1º turno).
No dia 17 de março de 1981, o treinador Airton Nogueira assumiu o comando técnico do Tiradentes. Sobre a saída de Martim Francisco, explicaram os dirigentes do Tiradentes que por problemas de saúde ele não poderia mais continuar à frente da equipe e que no contrato assinado entre as partes constava que ele deveria se submeter a tratamento periódico de diabetes. Com esse tratamento, ficaria sem tempo para se dedicar ao clube.
Na derrota de 2 x 1 para o Sobradinho, no dia 15 de março de 1981, pela I Copa Centro-Oeste, Martim Francisco dirigiu a equipe pela última vez.
Martim Francisco era um estudioso da literatura futebolística, com centenas de livros cuidadosamente organizados em sua biblioteca particular.
Faleceu em Belo Horizonte (MG), no dia 22 de junho de 1982, aos 54 anos, na véspera da partida da Seleção Brasileira contra a Nova Zelândia pela Copa do Mundo daquele ano.



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