OS PRIMÓRDIOS
DO FUTEBOL
Time da EBE, em 1959: Wander Abdalla é o quinto em pé, da esquerda para a direita |
Enquanto o time
formado por funcionários da EBE - que era fiscalizada pelo Departamento de
Força e Luz - participava do Campeonato Brasiliense de 1959, sob a designação
de Associação Esportiva EBE, o pessoal da Fiscalização do DFL passava o tempo
na solidão do grande canteiro de obras que era Brasília, assistindo aos jogos
nos acampamentos ou ouvindo as transmissões de futebol dos grandes centros
esportivos pelo rádio.
Para acabar
com aquele marasmo era preciso fazer algo. No depósito da então DRET, alguns
funcionários como Wander Abdalla, Samuel Silva, Lacir Pedersoli e outros faziam
de uma bucha de laranja uma bola de futebol improvisada, no horário de almoço,
para o tempo passar mais rápido. Logo depois alguém trouxe uma bola de meia.
A brincadeira
foi tomando forma e se transformou em pelada entre as bobinas gigantes e depois
veio o time uniformizado da Fiscalização.
O time era chamado
de Fiscalização porque todos os seus integrantes eram apontadores-fiscais da
EBE. Foi um dos embriões do Defelê.
Segundo
Wander Abdalla, o primeiro treino da equipe aconteceu na manhã do dia 25 de
dezembro de 1959, pela manhã, no acampamento do DFL. Noção de bola só mesmo
tinham Wander, Samuel e Lacir Pedersoli.
O primeiro
desafio do Fiscalização veio pouco mais de uma semana depois, contra o time da
EBE, no acampamento desta, e perderam de 6 x 0. O fato curioso é que o time
jogou com camisas pretas, doação de Cássio Damásio, da EBE. Depois foram
trocadas por vermelhas, que eram as cores oficiais do Defelê.
Não demorou
para o time da Fiscalização do DRET pedir revanche ao time da EBE. Já
uniformizados e com o reforço de Eluff, do Guará, a Fiscalização devolveu a
goleada em cima da EBE, por 6 x 1.
A FUNDAÇÃO DO CLUBE
Ciro Machado do Espírito Santo |
Paralelamente
ao time de pelada e animados pelo resultado alcançado pelo time do Fiscalização,
um grupo de funcionários da DRET, dentre eles Antônio William Ramalho, Carlos
Magno Maia Dias, Ciro Machado do Espírito Santo, David Calixto Dib, Esdras Martins,
Francisco Troncha, Lincoln de Senna Gonçalves, Murilo Maia Dias (irmão de
Carlos Magno), Paulo Levenhagen de Mello, Wander Abdalla e Wills de Alvarenga,
se reuniu para formalizar a criação de um novo clube de futebol em Brasília.
Assim, no dia
1º de janeiro de 1960, na Avenida W-3, Quadra 13, Casa 17, em Brasília, foi
fundado o Defelê Futebol Clube, a maior glória do esporte no início de
Brasília.
Somente em 30
de agosto de 1960, os estatutos do Defelê foram registrados no Livro 2, fls.
26/27, número de ordem 17, no Cartório do 2º Ofício de Luziânia, Estado de
Goiás.
Previam que
seria considerado como sócio-fundador aquele que houvesse ingressado no quadro
social até 30 de setembro de 1960.
Para dar mais
poder ao time do Defelê, foi convidado (e ele aceitou por alguns dias), Paulo
Levenhagen de Mello para Presidente. Natural de Caxambu (MG), cunhado do famoso
locutor Jorge Cury, era Diretor da Divisão de Manutenção do DFL e chefe
imediato da maioria do pessoal que criou o Defelê. Quando percebeu que não
podia se dedicar ao clube como era o esperado por todos, indicou que Ciro
Machado do Espírito Santo o substituísse.
O dinâmico
presidente Ciro, que era primo em 1º grau de Fernando Henrique Cardoso, por
longo espaço de tempo esteve envolvido com esporte, onde gozava de grande
prestígio e possuía imenso círculo de amizade.
Carlos Magno participou
da assembleia que fundou a Federação Desportiva de Brasília, representando o
Novo Horizonte Atlético Clube (IAPETC), e depois como goleiro e dirigente do
Grêmio Brasiliense na Cidade Livre, liderou o movimento. Chegou em Brasília
como funcionário da Novacap em 3 de junho de 1958. Em 25 de abril de 1959 tomou
posse como Diretor do Departamento de Voleibol, Tênis e Tênis de Mesa da F.D.B.
Em 3 de maio de 1960 foi empossado no cargo de 1º Secretário do Defelê Futebol
Clube. Era Chefe do Serviço de Pessoal e tinha autorização para, quando
precisasse contratar funcionários devia ser alguém que jogasse futebol. No
primeiro treino do Defelê compareceu, a convite do irmão, Murilo, para ser o
goleiro da equipe, pois havia jogado nesta posição no Rio de Janeiro pelo São
Cristóvão e Botafogo.
Wills de Alvarenga foi
o datilógrafo da ata de criação do Defelê e seu 1º Tesoureiro.
A comissão
formada por Ciro, Carlos Magno e Wills elaborou o estatuto do Defelê e o
registrou na Federação Desportiva de Brasília e na CBD em 1960.
A 1ª
diretoria ficou assim constituída, no dia 3 de maio de 1960: Presidente de
Honra: Afrânio Barbosa da Silva; Presidente: Paulo Levenhagen de Melo; 1º
Vice-Presidente: Ciro Machado do Espírito Santo; 2º Vice-Presidente: Mauro
Rodrigues Alves; 3º Vice-Presidente: Antônio William Ramalho; Diretor de
Esportes: Antônio Ferreira Nascimento; Diretor Financeiro: Francisco Troncha;
Tesoureiro: Wills de Alvarenga; 1º Secretário: Carlos Magno Maia Dias; Diretor
Administrativo: Pedro da Costa Possolo; Diretor de Publicidade: Petrônio Rios
Fonseca; Vice-Presidente de Publicidade: Esdras Martins; Diretor Social: Tomaz
Figueiredo; Técnico: Edson Galdino; Vice-Presidente Social: Sarah Sette Rocha;
Representante junto a CBD: Wander Marques Abdalla; Roupeiro: Samuel Silva
Nascimento; Massagista: Antônio West; Supervisor: Lincoln de Sena Gonçalves.
Da EBE vieram
os dirigentes Cleóbulo Mesquita, reconhecido por todos como uma vibrante
máquina de trabalhar, e Roberto Soares (pai do centro-avante Ely, convidado por
ele para transferir-se do Rio de Janeiro para Brasília).
Na primeira
leva, foram contratados ou se juntaram ao time no primeiro treino, Aguinaldo
Evangelista, Alaor Capella, Anésio (o primeiro goleiro), Benedito Raimundo, Bimba,
Carlos Magno, Cauby (Afrânio Ramos Couto), Dito Carneiro, Édson Galdino, Ely,
Euclides, Gilberto Grillo, Inácio Mota Fraga, Isaac, Lacyr Pedersoli, Loureiro,
Macedo, Manoelzinho, Matil, Murilo Maia Dias, Marreta, Pará, Paulo Márcio Maia
Dias (irmão de Carlos Magno), Pedrinho, Ramiro, Sabarazinho, Samuel Silva
Nascimento, Victor Motta, Vitão, Vitinho, Wilson Godinho, Zé Paulo e Zequinha.
Depois, Wander
Abdalla foi à cidade de Ponta Alta (MG) buscar Waldyr “Didi” de Carvalho para
ser o treinador da equipe.
Todos os jogadores
contratados trabalhavam no DFL e tinham autorização para participar de apenas
dois treinos à tarde, por semana.
O curioso é
que o Defelê chegou a pensar em não disputar o primeiro campeonato brasiliense.
Como clube amador que era, a situação financeira sempre foi muito complicada.
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