quarta-feira, 25 de maio de 2022

CURIOSIDADES DO FUTEBOL BRASILIENSE: um Treinador em dois times diferentes no mesmo dia


Uma briga política pela segunda vaga do DF no Campeonato Brasileiro de 1978 (a primeira era do Brasília), envolvendo Gama e Taguatinga, quase provocou um fato inédito no futebol, ou seja, um técnico dirigindo dois times diferentes no mesmo dia.
Tudo começou em 2 de fevereiro de 1978, quando reunida a Assembleia Geral de Clubes da Federação Metropolitana de Futebol, esta decidiu licenciar o Canarinho Esporte Clube e o Grêmio Esportivo Brasiliense, ambos pelo período de um ano.
Graças aos apelos do presidente do Taguatinga, Justo Magalhães, o Canarinho escapou de ser desfiliado. Justo Magalhães pediu a presidência da Federação Metropolitana de Futebol e aos demais representantes que dessem um voto de confiança ao Canarinho e não tomassem medidas radicais. Foi feita uma ponderação e a Assembleia achou por bem convocar o presidente do Canarinho, Antônio Ferreira, para que esse fizesse os devidos esclarecimentos. Ao tomar conhecimento de que não poderia afastar-se por completo da FMF, sob pena de o clube ser desfiliado, o dirigente do Canarinho salientou que o clube disputaria as categorias denominadas inferiores.
Por outro lado, o presidente do Gama, Márcio Tannus, foi o único representante a dar um parecer contra a licença do Grêmio, afirmando que era radicalmente contra pedidos de licenciamento e retorno de filiados, dizendo que os clubes deveriam permanecer em completa atividade ou solicitar extinção.
Aproveitando-se da licença do Canarinho, o Taguatinga contratou sete dos seus jogadores e mais o treinador João da Silva, dando, de imediato, entrada nos contratos junto a CBD.
Acontece que o Canarinho ainda tinha uma partida a fazer pelo Torneio Incentivo de 1977, iniciado em outubro de 1977 e que passou para o ano de 1978. Paralisado em dezembro de 1977, seus jogos retornaram no final de janeiro de 1978.
Faltava ao Canarinho justamente um jogo diante do Gama, vencedor do 1º turno, e que, caso o Canarinho fosse vencedor, ajudaria o Taguatinga, que estava na luta pelo returno.
No dia 19 de fevereiro de 1978, estava marcada a rodada dupla Gama x Canarinho e Grêmio x Taguatinga, no Estádio Bezerrão, do Gama.
O jogo Gama x Canarinho foi disputado na parte da manhã. Para surpresa de todos, o Canarinho venceu o Gama por 2 x 0.
Um dos fatos mais comentados durante esse jogo foi a atuação de João da Silva, das arquibancadas, gritando e passando instruções ao preparador físico do Taguatinga, Aparecido, que trabalhava como “treinador formal” do Canarinho.
Na parte da tarde, deveriam jogar Grêmio x Taguatinga. Os times chegaram a entrar em campo. Como técnico do Taguatinga, à beira do gramado, estava o mesmo João da Silva. Foi aí que o árbitro Carlos Alberto Hagstrong, alegando que a marcação ruim do campo não permitia a realização do jogo, suspendeu a partida, deixando os dirigentes do Gama muito irritados.
O Gama recorreu para tentar recuperar os pontos perdidos para o Canarinho, alegando que os jogadores do Canarinho já estariam com rescisão de contrato com o ex-clube. Não ganhou a causa.
Inclusive surgiram comentários da parte dos dirigentes do Gama que “não adiantava a união de esforços entre Taguatinga e Canarinho para impedir que o Gama ganhasse o título e, consequentemente, a segunda vaga no Campeonato Brasileiro”.
Poucos dias depois, o presidente do Taguatinga, Justo Magalhães, foi mais vivo que toda a diretoria do Gama e em uma conversa de cerca de três horas com o presidente da CBD, Heleno Nunes, garantiu a segunda vaga do DF no Campeonato Brasileiro de 1979 para seu clube. Usou de todos os argumentos possíveis e disponíveis para convencer Heleno Nunes de que o futebol profissional do DF só conseguiria progredir se mais uma vaga fosse oferecida aos clubes brasilienses, alegando que o campeonato local teria mais motivação e todos os clubes cresceriam de nível técnico, compulsoriamente.
Na reunião em que a CBD decidiu que o número de participantes do Campeonato Brasileiro de 1978 ficaria em 72, Justo Magalhães conseguiu chegar à sala de reunião dos diretores da entidade com os presidentes de federações, afirmando que era o assessor técnico do presidente da FMF, Gerson Alves de Oliveira. Argumentou que convenceu André Richer para deixá-lo permanecer no recinto. Com isso, quando Goiás apresentou o pedido de aumento para quatro clubes, imediatamente a inscrição da segunda vaga brasiliense pôde ser feita.
Voltando ao torneio local, o Taguatinga venceu o Gama, por 1 x 0, já contando com João da Silva como seu treinador. O resultado inesperadamente colocou o Canarinho no páreo, mas sem time para disputar qualquer partida mais, enquanto que o Taguatinga ainda reclamava os dois pontos do jogo que não disputou contra o Grêmio, que também estava na mesma situação do Canarinho.
A Federação Metropolitana de Futebol fez uma consulta à CBD para saber como proceder nesta questão. Se o Taguatinga ganhasse os dois pontos que não jogou contra o Grêmio, ficaria com o título do segundo turno.
Posteriormente, com a licença de Canarinho e Grêmio confirmadas, o Taguatinga foi apontado como campeão do 2º turno, se qualificando para disputar o título com o Gama, vencedor do 1º.
No dia 26 de março de 1978, o Gama venceu o Taguatinga, por 2 x 0 e sagrou-se campeão do Torneio Incentivo de 1977. No banco de reservas do Taguatinga, como seu treinador, estava João da Silva.
De nada adiantou tudo isso, pois, dias depois, o presidente da CBD, Heleno Nunes, afirmava taxativamente não haver a menor possibilidade de colocar mais um representante do DF no Campeonato Brasileiro, pois o número de 72 participantes já estava definido e em hipótese alguma seria majorado (o que não foi verdade, pois esse número foi aumentado para 74). 


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