quarta-feira, 30 de novembro de 2022

OS TÉCNICOS DO FUTEBOL BRASILIENSE: Didi de Carvalho (in memoriam)



Waldyr de Carvalho, o Didi, nasceu em Lavras (MG), no dia 30 de novembro de 1922.

Começou no futebol defendendo a Associação Olímpica de Lavras e teve uma breve passagem pelo América (RJ), no ano de 1943, o suficiente para conhecer um técnico que marcaria presença em sua carreira de jogador e treinador: Gentil Cardoso.
No América carioca não teve muitas chances para se tornar titular da equipe, eis que o setor defensivo do clube possuía bons jogadores, entre eles um jogador que viria a trabalhar como técnico no futebol brasiliense da década de 60, o argentino Gritta, considerado na época o melhor marcador de Heleno de Freitas.
Uma das poucas vezes que foi titular aconteceu no dia 3 de novembro de 1943, quando o América venceu o São Cristóvão por 3 x 1, em jogo válido pelo Torneio Imprensa.
No final desse ano, acompanhou o América carioca em uma excursão por gramados mineiros. No ano seguinte (1944), transferiu-se para o América, de Belo Horizonte, onde atuou por sete anos, sempre elogiado pela imprensa mineira como jogador disciplinado e padrão de desportividade. 
Também demorou um pouco para se tornar titular no América mineiro. Num amistoso realizado contra o Cruzeiro, em 11 de novembro de 1944, os dois clubes atuaram bastante desfalcados, pois tinham jogadores defendendo a Seleção de Minas Gerais no campeonato brasileiro: o Cruzeiro sem seis titulares e o América sem cinco.

Quando o campeonato foi reiniciado, em dezembro de 1944, Didi assumiu o posto de titular na equipe, não mais perdendo-o.
Em 1945 permaneceu como titular na equipe e o América chegou ao vice-campeonato mineiro.
Na edição de 14.02.1946, do O Diário Esportivo, este jornal realizou uma enquete para se conhecer “o selecionado mineiro da atualidade”.
Relatou o jornal:
“Para a marcação cerrada, Didi. A escolha do center-half da seleção não oferece maiores dificuldades. Quatro são os elementos que se apresentam em condições de preencher o posto: Didi, Fuinha, Tilim e Afonso. Para a tática da marcação cerrada, cremos não haver voz discordante quanto à indicação do “pivô” americano Didi. Duro, duríssimo de ser vencido, quer por cima, quer no jogo rasteiro. Sempre em grande forma física, cavador, de um fôlego extraordinário, Didi assume a ponta dos melhores na posição para o sistema de marcação cerrada”.
Mais adiante o jornal descreve: 
O “SELECIONADO DA ATUALIDADE”
Depois de todas essas ponderações, escolhidos os craks de cada posição, vamos ver como ficou o “scratch” titular do momento no futebol mineiro:
Geraldo II (Cruzeiro), Murilo (Atlético) e Juca (Villa Nova); Vicente (Villa Nova), Didi (América) e Juvenal (Cruzeiro); Lucas (Atlético), Lauro (Siderúrgica), Xavier (Atlético), Ismael (Cruzeiro) e Braguinha (Cruzeiro).
Enquanto esteve no América, de Belo Horizonte, foi convocado e integrou por quatro vezes o selecionado mineiro. 
Sua última participação foi nas semifinais do Campeonato Brasileiro de 1946. No dia 8 de dezembro daquele ano, no Estádio do Pacaembu, a seleção mineira foi derrotada pela Seleção da Guanabara, por 2 x 1, e foi desclassificada da competição. A seleção mineira atuou com Mão de Onça, Bibi e Pescoço; Adelino, Didi e Silva; Lucas, Ismael, Ceci, Paulo Florêncio e Nívio.
O ano de 1948 foi o de consagração de Didi no América. Seu clube conquistou o campeonato mineiro, com apenas duas derrotas nos 18 jogos que disputou, vencendo o Atlético Mineiro na final por 3 x 1. A defesa do América foi a melhor do campeonato, sofrendo apenas 17 gols.

América campeão mineiro de 1948
Em pé: Jorge, Lazaroti, Didi, Tonho, Lusitano e Negrinhão.
Agachados: Hélio, Nadinho, Petrônio, Valsechi e Murilinho.

Também em 1948, o América, com Didi de titular na sua zaga, venceu um torneio quadrangular disputado em Belo Horizonte e que reuniu a superequipe do Vasco da Gama, base da seleção brasileira que disputaria a Copa do Mundo de 1950, o São Paulo e o Atlético Mineiro. Didi formou dupla com Lusitano.
Num de seus últimos jogos no América, em 5 de novembro de 1950, no estádio do Barro Preto, em Belo Horizonte, aconteceu empate de 3 x 3 entre América e Cruzeiro.
Depois do América mineiro, Didi passou pelo Tupã (SP) - onde foi jogador e técnico.

Em outubro de 1953, Didi foi um dos contratados pelo Nacional, de Uberaba, para a disputa do segundo turno do campeonato de Uberaba.
Sua estreia só aconteceu no dia 20 de dezembro de 1953, quando o Nacional venceu o Fluminense, de Araguari, por 3 x 1, em jogo válido pelo torneio do Triângulo Mineiro.
O Nacional, que não vinha bem no citadino, logo passou a atravessar uma ótima fase, com Didi tendo melhorado o seu sistema defensivo e passando a ser considerado um dos melhores centro-médios do sul de Minas.
O Nacional tornou-se vice-campeão do Triângulo Mineiro de 1953. Depois disso, o Nacional foi o campeão amador de Uberaba nos anos de 1954 e 1955.
Em julho de 1954, o treinador Sultan Mattar deixou a direção do Nacional. Enquanto o clube não conseguia um novo técnico, Didi passou a orientar os treinamentos, dando seus primeiros passos como treinador.
Na edição de 18 de agosto de 1954, após vitória do Nacional sobre seu maior rirval, o Uberaba S. C., o jornal Lavoura e Comércio, de Uberaba, disse: “Didi foi uma barreira. Absoluta classe, faz com perfeição o trabalho de cobertura. Está jogando uma enormidade o veterano Didi”.
O treinador do Nacional passou a ser seu ex-companheiro de América carioca, o zagueiro argentino Hector Gritta.
Comentário do “Lavoura e Comércio” de 14 de setembro de 1955: “Didi é outro que está resistindo ao tempo. É como o vinho, quanto mais velho melhor. Didi, a exemplo de Oliveira, atua nos gramados desde 1940. Sempre uma barreira. Nos certames mineiros, pivot do América e depois zagueiro, Didi chegou a figurar no selecionado das Alterosas. Esteve militando no futebol paulista e, certo dia, chegou, viu e venceu no futebol uberabense. É uma “navalha” o craque-barbeiro. Capitão da equipe, mercê suas qualidades de homem e jogador”.
No dia 17 de outubro de 1955, a CBD divulgou um despacho oficial comunicando que concederia o prêmio Belfort Duarte ao jogador Didi. Nota: o prêmio Belfort Duarte era uma homenagem da CBD ao jogador João Evangelista Belfort Duarte, e era oferecido aos jogadores que permanecessem 10 anos sem ser expulso. 
Menos de um mês depois, no dia 8 de novembro de 1955, Didi compareceu ao programa de rádio comandado por Leite Neto para apresentar suas despedidas e ser homenageado pela família nacionalista. Didi sempre foi um exemplo de jogador eficiente e disciplinado e, por estas razões, deixou muitas amizades e saudades.

O novo rumo de Didi seria Ponte Alta, distante 35 km do centro de Uberaba, um distrito mais conhecido por abrigar uma importante fábrica de cimento. O time que Didi iria defender era o Cimento Ponte Alta Sport Club. Didi passou a revezar entre jogador (como capitão da equipe) e treinador do Ponte Alta e a ser funcionário da Fábrica de Cimento. Também continuou inscrito pelo Nacional e ainda disputou alguns jogos pelo campeonato de Uberaba.
Em dezembro de 1955 foi realizada uma enquete para se conhecer a “seleção do ano” e o jogador mais completo do ano. Seis pessoas, sendo cinco cronistas esportivos e um árbitro, elegeram a “seleção do ano” e apontaram o jogador mais completo de 1955.
Os locutores esportivos Farah Zaida e Jorge Zaidan escolheram para craque do ano, Tati e Donaldo, respectivamente. O também locutor Eurípedes Craig votou em Didi, assim justificando seu voto: “Alma do Nacional e dono de um quadro, merece este posto. Didi, pelo que representou ao Nacional, é o craque do ano”.
O goleiro do Uberaba, Vilmondes, recebeu os outros três votos e ganhou a votação.
De 1956 a 1959, às vezes como jogador e outras como treinador, Didi esteve no Ponte Alta.
No dia 1º de maio de 1956, teve lugar um torneio em comemoração ao “Dia do Trabalho”, o Torneio Industriário de Futebol, promovido pelo S. R. F. do SESI, que contou com a participação de seis clubes, dentre eles o Ponte Alta. Sagrou-se campeão o quadro do Ceres F. C., que venceu o Ponte Alta, na disputa de pênaltis, por 3 x 2, depois de 0 x 0 no tempo regulamentar. Didi formou na zaga do Ponte Alta.
Também tomou parte do Torneio Início promovido pela Liga Uberabense de Futebol, sendo eliminado pelo Fabrício.
Nos últimos jogos, principalmente os amistosos disputados contra clubes de Uberaba, Didi atuou mais como treinador do que como jogador do Ponte Alta.
Nos anos de 1958 e 1959, o Ponte Alta continuou prosperando, graças a orientação competente do veterano e admirado Didi. Nesses anos, o Ponte Alta disputou o campeonato amador da cidade de Uberaba, patrocinado pela LUF.

Didi foi um dos primeiros técnicos a vir trabalhar no futebol do Distrito Federal, trazido do interior de Minas Gerais para treinar o Defelê. Chegou à Brasília em julho de 1960, passando a fazer parte do quadro de funcionários do Departamento de Força e Luz - DFL e, a convite de Ciro Machado do Espírito Santo, passou a treinar o Defelê, onde se tornou bicampeão em 1960 e 1961 (também era treinador no ano de 1962 em que o Defelê se sagrou tricampeão, mas saiu antes do encerramento do campeonato).
Também foi o técnico da Seleção do Distrito Federal no Campeonato Brasileiro de Seleções de 1962 e em diversos jogos amistosos.
No dia 14 de dezembro de 1962 aconteceu a saída do treinador Didi, do Defelê. Ainda assim, foi escolhido como “Melhor Treinador” de 1962 pelo Diário Carioca-Brasília.
Assumiu o comando do Rabello a partir de 13 de janeiro de 1963. 
Em 24 de maio de 1964, Edilson Braga assumiu a direção técnica do Rabello, depois que Didi de Carvalho solicitou licença por um período de 30 dias.
Logo depois, Didi retornou ao Defelê e foi escolhido para treinador da Seleção de Brasília em vários amistosos.
Em 1965 foi treinador do Colombo, voltando ao Defelê em 1966. Depois aconteceu um longo recesso, só retornando em 1970, quando passou a ser treinador do Brasília, de Taguatinga, e foi o técnico do Piloto no campeonato brasiliense de 1972.
De 1973 a 1975 foi o treinador do CEUB no campeonato brasiliense de amadores (o time de profissionais disputava o Campeonato Brasileiro no mesmo período).
Treinou o Gama no Campeonato Metropolitano de 1977.
Era pai dos ex-jogadores Péricles e Wander.



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