Na semana em que o Brasília volta a decidir um campeonato brasiliense de futebol, uma homenagem a um dos maiores responsáveis pela existência do clube.
No dia 22 de fevereiro de 1978 o futebol profissional do Distrito Federal perdeu um de seus maiores incentivadores, José da Silva Neto, presidente do Brasília Esporte Clube, que faleceu aos 54 anos de idade.
Silva Neto, como era conhecido, já estava há algum tempo afastado da presidência do Brasília, por motivos de saúde, estando seu lugar ocupado, interinamente, pelo vice-presidente Augustinho Villar Neto, mas mesmo assim a diretoria não tomava nenhuma deliberação importante sem que primeiro uma consulta fosse feita, pois ele era visto como um homem muito inteligente e que a visão empresarial sempre o colocava um passo à frente de qualquer outro dirigente esportivo da cidade.
Foi através de seu incentivo que o Brasília Esporte Clube tornou-se uma realidade, pois se antes os empresários da cidade tinham o desejo de fundar o Cobra – Comercial Brasília Esporte Clube, esta pretensão, nascida em 1969, jamais saiu das discussões dos gabinetes e mesas de reunião, pois na hora de se definir nada se definia.
Com isso, o que aconteceu foi um centro de estudos acadêmicos do Distrito Federal ter passado na frente dos empresários e criado o Ceub Esporte Clube para representar o futebol candango no profissionalismo nacional, fato que levou os empresários a ficarem indefinidos mais ainda, já que preferiram esperar para ver no que resultaria a experiência universitária e depois estruturarem seu clube sem os erros de quem não tinha muita experiência na área.
Mas, em junho de 1975, José da Silva Neto conseguiu ver o sonho dos empresários candangos tornando-se realidade e como sócio número um e grande líder da criação do clube ele era empossado na presidência, posto que pouco depois foi obrigado a passar, também interinamente, para Vicente de Paula Rodrigues da Cunha, pois teve que se submeter a um tratamento médico demorado.
Ainda em 1975, o Brasília conquistava seu primeiro título no profissionalismo, ao vencer o Torneio Incentivo, cuja taça foi entregue ao capitão Pedro Pradera pelo governador Elmo Serejo Farias, na tribuna do estádio do Centro Desportivo Presidente Médici, sendo aquele o dia de maior emoção esportiva de Silva Neto, conforme ele confidenciou a um amigo.
Nascido na cidade mineira de Guaxupé, Silva Neto passou vinte anos de sua mocidade em Uberlândia, onde iniciou-se no comércio e também se destacou no futebol como um vigoroso zagueiro do Fluminense local.
Em 1957 ele chegou a Brasília e aqui montou a Retífica Nacional de Motores, que em pouco tempo ampliou seus negócios e lhe permitiu adquirir o controle acionário da Brasília Diesel, em Anápolis, que mais tarde passou a se chamar Dinasa.
Em seguida conseguiu a concessão da Mercedes Benz para revenda de peças e automóveis em Brasília, através da Codipe, vindo logo após a montagem de uma fábrica de carrocerias em Goiânia (Carrocerias Anhanguera) e ainda em Goiânia a aquisição de uma fazenda (Agrocan), para projetos agrícolas e pecuários.
Ao todo ele controlava oito empresas.
Silva Neto também foi sócio fundador da Associação Comercial do Distrito Federal, da qual foi diretor, presidente e membro do Conselho Superior, além de, também, ter sido fundador e presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Automóveis, Peças e Acessórios.
Silva Neto deu inteira liberdade ao treinador Airton Nogueira para que o clube disputasse o Campeonato Brasileiro de 1977 com os mesmos jogadores que haviam sido bicampeões da cidade. Essa decisão foi duramente criticada, mas quando o Brasília conseguiu a classificação para a fase intermediária, os elogios não faltaram.
O último jogo que Silva Neto assistiu foi Brasília 2 x 1 Goytacaz, no dia 5 de novembro de 1977, no Pelezão, quando ficou grandemente emocionado quando o ponteiro Julinho marcou o gol da vitória no último minuto da partida.
Daí por diante, já com seu estado de saúde bem debilitado, ele não mais foi a campo, por recomendação médica, mas ouviu todos os jogos do seu clube pelo rádio, confidenciando a amigos que no dia em que o Brasília conseguiu sua classificação entre os melhores clubes do País ele só teve emoção igual no dia em que casou-se com a senhora Maria José Freitas da Silva e quando nasceram os seus dois filhos (Otávio e Raquel).
Quando o Ceub abandonou o futebol candango, em 1976, muitos o acusaram de ter influenciado na Federação Metropolitana de Futebol para liquidar com o rival, pois todos sabiam que o grande desejo do Brasília era disputar o Campeonato Brasileiro. Contudo, Silva Neto provou aos que assim pensavam que eles estavam errados, já que ele mesmo, por diversas vezes, foi ao encontro dos dirigentes do Ceub procurando colaborar para o retorno daquele que seria o rival do seu clube.
Silva Neto sempre ia aos treinos do Brasília e enquanto teve saúde não perdeu uma partida sequer. Com a imprensa sempre foi muito cordial, não negando informações e até mesmo dando seu telefone do trabalho e de casa para os repórteres que cobriam o clube.
Fonte: Jornal de Brasília.
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