Uma briga política pela segunda vaga do DF no Campeonato Brasileiro de 1978 (a
primeira era do Brasília), envolvendo Gama e Taguatinga, quase provocou um fato
inédito no futebol, ou seja, um técnico dirigindo dois times diferentes no
mesmo dia.
Tudo começou em 2 de fevereiro de 1978, quando reunida a Assembleia Geral de
Clubes da Federação Metropolitana de Futebol, esta decidiu licenciar o
Canarinho Esporte Clube e o Grêmio Esportivo Brasiliense, ambos pelo período de
um ano.
Graças aos apelos do presidente do Taguatinga, Justo Magalhães, o Canarinho
escapou de ser desfiliado. Justo Magalhães pediu a presidência da Federação
Metropolitana de Futebol e aos demais representantes que dessem um voto de confiança
ao Canarinho e não tomassem medidas radicais. Foi feita uma ponderação e a
Assembleia achou por bem convocar o presidente do Canarinho, Antônio Ferreira,
para que esse fizesse os devidos esclarecimentos. Ao tomar conhecimento de que
não poderia afastar-se por completo da FMF, sob pena de o clube ser desfiliado,
o dirigente do Canarinho salientou que o clube disputaria as categorias
denominadas inferiores.
Por outro lado, o presidente do Gama, Márcio Tannus, foi o único representante
a dar um parecer contra a licença do Grêmio, afirmando que era radicalmente
contra pedidos de licenciamento e retorno de filiados, dizendo que os clubes
deveriam permanecer em completa atividade ou solicitar extinção.
Aproveitando-se da licença do Canarinho, o Taguatinga contratou sete dos seus
jogadores e mais o treinador João da Silva, dando, de imediato, entrada nos
contratos junto a CBD.
Acontece que o Canarinho ainda tinha uma partida a fazer pelo Torneio Incentivo
de 1977, iniciado em outubro de 1977 e que passou para o ano de 1978. Paralisado
em dezembro de 1977, seus jogos retornaram no final de janeiro de 1978.
Faltava ao Canarinho justamente um jogo diante do Gama, vencedor do 1º turno, e
que, caso o Canarinho fosse vencedor, ajudaria o Taguatinga, que estava na luta
pelo returno.
No dia 19 de fevereiro de 1978, estava marcada a rodada dupla Gama x Canarinho
e Grêmio x Taguatinga, no Estádio Bezerrão, do Gama.
O jogo Gama x Canarinho foi disputado na parte da manhã. Para surpresa de
todos, o Canarinho venceu o Gama por 2 x 0.
Um dos fatos mais comentados durante esse jogo foi a atuação de João da Silva,
das arquibancadas, gritando e passando instruções ao preparador físico do
Taguatinga, Aparecido, que trabalhava como “treinador formal” do Canarinho.
Na parte da tarde, deveriam jogar Grêmio x Taguatinga. Os times chegaram a entrar
em campo. Como técnico do Taguatinga, à beira do gramado, estava o mesmo João
da Silva. Foi aí que o árbitro Carlos Alberto Hagstrong, alegando que a
marcação ruim do campo não permitia a realização do jogo, suspendeu a partida,
deixando os dirigentes do Gama muito irritados.
O Gama recorreu para tentar recuperar os pontos perdidos para o Canarinho,
alegando que os jogadores do Canarinho já estariam com rescisão de contrato com
o ex-clube. Não ganhou a causa.
Inclusive surgiram comentários da parte dos dirigentes do Gama que “não
adiantava a união de esforços entre Taguatinga e Canarinho para impedir que o
Gama ganhasse o título e, consequentemente, a segunda vaga no Campeonato
Brasileiro”.
Poucos dias depois, o presidente do Taguatinga, Justo Magalhães, foi mais vivo
que toda a diretoria do Gama e em uma conversa de cerca de três horas com o
presidente da CBD, Heleno Nunes, garantiu a segunda vaga do DF no Campeonato
Brasileiro de 1979 para seu clube. Usou de todos os argumentos possíveis e
disponíveis para convencer Heleno Nunes de que o futebol profissional do DF só
conseguiria progredir se mais uma vaga fosse oferecida aos clubes brasilienses,
alegando que o campeonato local teria mais motivação e todos os clubes
cresceriam de nível técnico, compulsoriamente.
Na reunião em que a CBD decidiu que o número de participantes do Campeonato
Brasileiro de 1978 ficaria em 72, Justo Magalhães conseguiu chegar à sala de
reunião dos diretores da entidade com os presidentes de federações, afirmando
que era o assessor técnico do presidente da FMF, Gerson Alves de Oliveira. Argumentou
que convenceu André Richer para deixá-lo permanecer no recinto. Com isso,
quando Goiás apresentou o pedido de aumento para quatro clubes, imediatamente a
inscrição da segunda vaga brasiliense pôde ser feita.
Voltando ao torneio local, o Taguatinga venceu o Gama, por 1 x 0, já contando
com João da Silva como seu treinador. O resultado inesperadamente colocou o
Canarinho no páreo, mas sem time para disputar qualquer partida mais, enquanto
que o Taguatinga ainda reclamava os dois pontos do jogo que não disputou contra
o Grêmio, que também estava na mesma situação do Canarinho.
A Federação Metropolitana de Futebol fez uma consulta à CBD para saber como
proceder nesta questão. Se o Taguatinga ganhasse os dois pontos que não jogou
contra o Grêmio, ficaria com o título do segundo turno.
Posteriormente, com a licença de Canarinho e Grêmio confirmadas, o Taguatinga
foi apontado como campeão do 2º turno, se qualificando para disputar o título
com o Gama, vencedor do 1º.
No dia 26 de março de 1978, o Gama venceu o Taguatinga, por 2 x 0 e sagrou-se
campeão do Torneio Incentivo de 1977. No banco de reservas do Taguatinga, como
seu treinador, estava João da Silva.
De nada adiantou tudo isso, pois, dias depois, o presidente da CBD, Heleno
Nunes, afirmava taxativamente não haver a menor possibilidade de colocar mais
um representante do DF no Campeonato Brasileiro, pois o número de 72
participantes já estava definido e em hipótese alguma seria majorado (o que não
foi verdade, pois esse número foi aumentado para 74).
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