Para melhor entendermos o início do futebol no Distrito Federal, faz-se
necessário um retorno aos quatro anos anteriores a inauguração de Brasília (que
ocorreu em 21 de abril de 1960), para comprovar que o futebol está intimamente
ligado a este período.
O retorno de alguém estudando, principalmente na Inglaterra, foi o caminho para a introdução do futebol em diversos Estados brasileiros.
O retorno de alguém estudando, principalmente na Inglaterra, foi o caminho para a introdução do futebol em diversos Estados brasileiros.
Todos eles incentivaram seus amigos para a prática do futebol, esporte que
tinham conhecido durante suas permanências na Europa.
Foi assim com Charles Miller, em São Paulo, Oscar Cox, no Rio de Janeiro, Zuza
Ferreira, na Bahia, Guilherme de Aquino Fonseca, em Pernambuco, e Nhozinho
Santos, no Maranhão, apenas para citar alguns.
Ao contrário desses centros, o futebol em Brasília surgiu sob a insígnia da
pobreza e da simplicidade, sem flores nem fatos marcantes, mas apenas cercado
pelo entusiasmo ímpar de um grupo de homens que conseguiu tirar das firmas construtoras
os alicerces iniciais para o desenvolvimento do futebol na futura Capital
Federal.
AS CONSTRUTORAS
Depois da instalação das construtoras em acampamentos nas imediações das obras
que realizavam no Palácio da Alvorada, Eixo Monumental leste e Praça dos Três
Poderes, surgiu o local conhecido hoje como Vila Planalto.
Nessa época a Vila Planalto ocupava uma área que extrapola em muito a atual. O
conjunto se estendia desde o local agora ocupado pelos Anexos dos Ministérios,
do Senado Federal e do Palácio do Planalto, atravessando os Setores de
Embaixadas e Clubes Norte, indo até perto do Palácio da Alvorada. O Lago
Paranoá cobriu parte de alguns desses acampamentos.
Com o início das obras na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos
Ministérios, a NOVACAP permitiu que outras construtoras erguessem,
simultaneamente, seus acampamentos em locais próximos aos já existentes.
A primeira tarefa foi manter o acampamento e o canteiro de obras, que pelas
suas características de pioneirismo, deveriam possuir todos os recursos
indispensáveis para a sua manutenção.
Além dos alojamentos para operários solteiros, construíram-se casas para
engenheiros, funcionários e operários casados, refeitório, farmácia, capela e
um campo de futebol, que se constituía aos domingos na única fonte de diversão
daquela numerosa equipe.
A busca de lazer e de entretenimento levou os empregados de uma grande parte
desses acampamentos a descobrirem o futebol. As “peladas” começavam a fazer
parte do quotidiano de Brasília. Como em toda parte, cercadas de grande
animação. Partidas sensacionais, entusiasmo fora do comum e neste diapasão as
horas se passavam, fazendo esquecer as tristezas determinadas pela ausência dos
familiares, que aos poucos começavam a chegar a Brasília.
O amor que dedicavam ao futebol era tão grande que passou a despertar o
interesse dos donos das construtoras.
Tudo isso motivou os empregados das outras construtoras a também criarem seus
times, que em pouco tempo chegaram a 19.
Os times com alguma organização passaram a brotar nas empresas construtoras e
estas não poupavam esforços em apoiar os seus “craques”, pressentindo que
encher um caminhão de gente aos domingos e levar para os campos de terra batida
seria o único meio de impedir as bebedeiras e brigas na zona de baixo
meretrício, que reduziam a produtividade nas segundas-feiras e às vezes
redundavam até em morte. A maioria dos trabalhadores morava e fazia refeições
nas obras e como o pagamento da jornada semanal de trabalho era aos sábados,
começavam, então, as farras naquele dia.
Essa iniciativa também era um meio de promover os nomes de suas firmas na
grande batalha de erguer Brasília.
As empresas construtoras compravam o material necessário e descontava nos
salários dos trabalhadores, dando, em contrapartida, o transporte (normalmente
um caminhão) para levá-los e trazê-los de onde fosse o jogo. Quem se destacasse
nas peladas dos campos junto às obras era recrutado para o time da construtora,
embora continuasse trabalhando. Por isso, atletas veteranos que haviam sido profissionais
ou aqueles em início de carreira em clubes do Rio de Janeiro e Minas Gerais,
principalmente, sabendo que encontrariam emprego em Brasília se fossem bons de
bola, não pensaram duas vezes em se aventurar.
RABELLO
Em novembro de 1956 chegavam ao local onde seria erguida a futura Capital do
Brasil os primeiros veículos conduzindo operários e funcionários da Construtora
Rabello.
Em 17 de agosto de 1957, foi fundado o Rabello Futebol Clube, que pertencia a
Construtora Rabello, cujo diretor era o engenheiro Marco Paulo Rabello,
responsável pela construção de importantes obras em Brasília, dentre as quais o
Palácio da Alvorada, a Estação Rodoviária, o Supremo Tribunal Federal, a
Catedral de Brasília, o Teatro Nacional e a Universidade de Brasília.
A Rabello foi uma das primeiras firmas a se instalar longe da Cidade Livre para
cuidar da construção das obras acima citadas. Após essas obras, seu acampamento
foi transferido para a Vila Planalto.
O Rabello participou durante onze anos do campeonato brasiliense,
ininterruptamente, desde 1959, a primeira vez, até 1969, seu último ano, já sem
nenhum apoio da construtora.
Conquistou quatro títulos de campeão brasiliense de futebol nos anos de 1964 a
1967.
PLANALTO
A Construtora Planalto Ltda. teve como principais obras em Brasília a Escola
Parque e a Barragem do Paranoá.
O primeiro estádio a ser construído em Brasília foi por iniciativa do Esporte
Clube Planalto, no Acampamento Tamboril, da Construtora Planalto, próximo à
Praça dos Três Poderes. As obras foram realizadas em apenas dez dias, sendo
cercado o campo com madeira, colocado alambrado e uma arquibancada que
comportava cerca de 700 pessoas.
O Planalto foi mais um clube que participou do primeiro campeonato de futebol
realizado no Distrito Federal, em 1959, antes mesmo da inauguração de Brasília.
Sempre formou grandes times para a disputa das competições oficiais do futebol
brasiliense. Em 1960, pouco tempo depois da inauguração da Capital Federal, o
Planalto trouxe, pela primeira vez, uma equipe do Rio de Janeiro para jogar em
Brasília, o Canto do Rio, de Niterói. Na primeira vez que se convocou jogadores
para formar uma seleção de Brasília, em 1961, o Planalto cedeu seis jogadores:
Raspinha, Jair, Edson Galba, Loureiro, Enes e Gesil, a maior parte deles como
titular.
Em abril de 1962, o Planalto não compareceu ao jogo e não deu qualquer
justificativa. Julgado pelo Tribunal de Justiça Desportiva, foi suspenso por
200 dias. Suspenso, o Planalto não pôde participar do Campeonato de 1962. Em
1963, filiou-se à Liga dos Clubes Independentes, já sem contar mais com
jogadores de nome, logo depois, o clube deixou de existir. Como muitos, foi
desativado após a retirada de Brasília da construtora que ajudava na manutenção
do time de futebol.
NACIONAL
A Companhia Construtora Nacional chegou a Brasília em 1957. Suas principais
obras foram a Câmara dos Deputados e o Senado Federal.
O Central Clube Nacional de Brasília foi fundado em 26 de julho de 1958, em
homenagem à Companhia Construtora Nacional S. A.
Assim como Rabello e Planalto, o Nacional foi um dos clubes fundadores, em 16
de março de 1959, da Federação Desportiva de Brasília.
Disputou os campeonatos de futebol de Brasília de 1959 a 1964. Neste último
ano, quando o profissionalismo começava a ser instalado, resolveu continuar
como amador, logo deixando de contar com o apoio da construtora Nacional e
abandonou o futebol brasiliense.
PEDERNEIRAS
O Cine Brasília, o Hospital Distrital e Palácio do Itamaraty foram as
principais obras da Companhia Construtora Pederneiras em Brasília.
O Pederneiras Esporte Clube, assim denominado em homenagem à Companhia
Construtora Pederneiras S. A., foi fundado em 18 de janeiro de 1959, na casa de
Walfredo Aleixo Martins e Souza, situada no Acampamento “Dr. Sérgio Seixas
Corrêa”, na Vila Planalto, em Brasília (DF).
Somente em 1960 o time de futebol da Pederneiras participaria pela primeira vez
do campeonato brasiliense. Paralisou suas atividades de 1961 a 1963, voltou em
1964 e ficou, na categoria de amadores, até 1966, seu último ano no futebol
brasiliense.
Sagrou-se campeã brasiliense na categoria de amadores, no ano de 1965.
COENGE
A Coenge S. A. Construções e Engenharia foi uma das primeiras (em 1957)
construtoras a chegar em Brasília para as obras de construção da nova capital.
Foi uma das mais importantes empreiteiras do setor de terraplanagem a começar a
operar em Brasília.
Quando foi realizado o campeonato brasiliense de 1959, a Coenge tinha uma
equipe de futebol, criada para manter vivo o clima de amizade e a união de
todos os seus funcionários e operários.
Depois passou a disputar competições na cidade do Gama e, em 1969, conquistou o
seu maior título ao sagrar-se campeã brasiliense amador.
CIVILSAN
Responsável pela confecção de tubos de concreto para os serviços de águas pluviais,
a Civilsan – Engenharia Civil e Sanitária S.A., foi das primeiras empresas a
chegar em Brasília, em agosto de 1957.
Apesar do pioneirismo, demorou para disputar competições oficiais da Federação
de Brasília, preferindo inicialmente as do Departamento Autônomo. Quando passou
para a divisão principal do futebol brasiliense, disputou apenas o campeonato
de 1970, quando sagrou-se vice-campeã.
ECRA/EDILSON MOTA
A Construtora ECRA Limitada, com sede em Fortaleza (CE), foi uma das dezenas de
empresas que chegaram para a construção de Brasília, ainda em agosto de 1959.
Dentre outras obras, foi responsável pela construção de vários edifícios
ministeriais e suas garagens.
Idealizado, fundado e desenvolvido por funcionários e operários dessa
construtora, o ECRA Futebol Clube foi fundado em 2 de março de 1960.
Com este nome, participou do Troféu “Israel Pinheiro”, competição que envolveu
equipes de outras sete companhias construtoras de Brasília, no sistema
“mata-mata”, ficando com o vice-campeonato.
Nos dias 3, 10 e 17 de julho de 1960, o ECRA inscreveu-se no Troféu “Danton
Jobim”. Durante esse torneio, o ECRA passou a denominar-se Associação Esportiva
Edilson Mota, em homenagem ao Engenheiro-Chefe da Construtora ECRA Ltda. e
presidente de honra do clube e seu fundador, Edilson Nogueira Mota.
Como clube filiado à Federação Desportiva de Brasília a primeira competição da
A. E. Edilson Mota foi o Torneio Início, realizado no dia 4 de setembro de
1960.
Antes do início do campeonato de 1960, no dia 13 de outubro de 1960, a A. E.
Edilson Mota encaminhou ofício a F.D.B. comunicando a sua extinção. Após uma
auditoria na empresa, ficou constatado que os jogadores recebiam seus salários
apenas para treinar e jogar no time, o que fez a Companhia solicitar uma
definição: ou os jogadores seriam mantidos pelo time, ou retomariam seus postos
na empresa. O clube foi dissolvido em ato administrativo. Este fato levou o
time a solicitar desfiliação.
CONSISPA
A Consispa –
Construtora de Imóveis de São Paulo foi a responsável pela construção da
estação de tratamento de água em Brasília, de 1959 a 1961.
Funcionários, operários e familiares dessa companhia fundaram, em 18 de outubro
de 1959 o Consispa Esporte Clube.
A primeira participação do Consispa em uma competição foi o Troféu Danton
Jobim, competição que reuniu equipes de diversas construtoras de Brasília.
Em julho de 1960 deu entrada junto a Federação Desportiva de Brasília
solicitando sua filiação a entidade.
A primeira competição oficial da Federação da qual o Consispa tomou parte foi o
Torneio Início de 1960.
Desconhecemos o motivo que levou o Consispa a entregar a Federação Desportiva
de Brasília, no dia 11 de novembro de 1960, o ofício de nº 14, solicitando sua
desfiliação. Assim terminou a curta história do Consispa.
A EBE – Empreza Brasileira de Engenharia S.A. foi incumbida pela Novacap de
projetar e executar a rede geral de distribuição elétrica de Brasília e
cidades-satélites. Sua sede era no Rio de Janeiro.
O time da EBE disputou o campeonato brasiliense de 1959.
OUTRAS CONSTRUTORAS
Com poucas exceções, cada construtora tinha o seu time.
A CCBE - Companhia Construtora Brasileira de Estradas tinha como presidente o
engenheiro Cincinato Cajado Braga, que gostava muito do futebol e participava
do time dos empreiteiros.
A Pacheco Fernandes Dantas, que construiu o Palácio do Planalto, disputou o
campeonato brasiliense de 1959.
Lindolpho Silva, Diretor da Cavalcante Junqueira (Caeira), foi um dos
fundadores e diretor dos mais entusiastas do Novo Horizonte, que também disputou
o campeonato brasiliense de 1959.
Outra que disputou o campeonato brasiliense de 1959 foi a Kosmos Engenharia.
Maurício Morandi Quadros também jogava no time dos empreiteiros da Novacap,
onde tinha o apelido de “Tanque” e foi um dos proprietários da Construtora M.
M. Quadros.
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